Não rejeitarei quem vem a mim (Jo 6), diz o Salvador. Santo Agostinho, no início de seu livro sobre o conhecimento da vida verdadeira, escreveu: “Jesus Cristo, a verdade e a vida, dizendo: A verdade consiste em conhecer-te, tu que és o único Deus verdadeiro (Jo 17), deixa evidente que a criatura racional só existe para conhecer a Deus, seu verdadeiro autor, para que, conhecendo-o, pudesse amá-lo e, amando-o, permanecesse eternamente naquele que é a vida eterna, e para que ela experimentasse a felicidade.” Daí o mesmo santo tirar esta conclusão: “Aplicar-se a conhecer, dentro de seus verdadeiros limites e tanto quanto possível, a essência da divindade, é, portanto, apressar-se para a vida eterna; ao passo que permanecer ignorante deste ponto por culpa própria, é lançar-se a uma morte que nunca terá fim.” Com estas palavras, Santo Agostinho ensina-nos, de um modo geral, que existem na eternidade duas moradas: uma que é a vida eterna, a outra que é uma morte cheia de amargura. Ele também nos diz que existem duas maneiras de chegar a essas mansões; aquela por uma pesquisa razoável acompanhada do amor, e a outra por negligência condenável, misturada com dor. Ora, o Senhor Jesus, que é o nosso caminho, a verdade pela qual nos esforçamos e a vida em que vivemos, faz-nos conhecer, de forma especial e particular, nas palavras acima citadas, estas duas moradas. E os caminhos que levam a elas. Um é interior, secreto, eterno e está em si mesmo; pois ela mesma é a pátria e a casa da alma, diz um autor. O outro é exterior e está fora dele; é o exílio eterno da alma, onde, segundo São Mateus, haverá choro e ranger de dentes (Mt 8). Os caminhos que levam à morada interior são tão numerosos quanto as várias maneiras de se aproximar do Senhor. Aqueles que terminam na morada externa são iguais em número às diferentes maneiras de escapar dela.