Este livro apresenta um compêndio de artigos sobre o desenvolvimento do conceito de justiça ao longo dos séculos. É a presença dos pensamentos de alguns dos maiores filósofos de todos os tempos sobre o que é justiça que qualifica esta obra como uma significativa propedêutica à filosofia do Direito. O tom ensaístico com que as principais correntes filosóficas são articuladas com a perspectiva particularizada do autor confere ao escrito um caráter híbrido. As especulações registradas ao longo da história sobre o conceito de justiça são revisitadas passando pelo prisma da fala paradigmática de Jesus registrada no Evangelho de Mateus, que não só trata quem passa pela sinestesia de fome e sede de justiça como um bem-aventurado, mas arrazoa essa bem-aventurança em uma promessa de cunho escatológico: a fartura! Mas há ainda um outro motivo que faz com que a fartura prometida por Jesus seja tratada neste livro como um evento escatológico, é a insuficiência dos meios humanos para alcançar a justiça, e é aqui que reside a essência desta obra. Não é a insuficiência de meios para perseguir a justiça, esses meios sobejam; a insuficiência reside inexoravelmente em alcançá-la. O próprio esforço intelectual no transcurso dos séculos para definir o que é justiça é já uma evidência de que a fome e a sede por ela permanecem uma constância no desenrolar do drama histórico da humanidade. É claro que o empenho intelectual não se restringia à conceituação do termo, mas revelava também uma inclinação do espírito, um desejo de tocar a justiça, de alcançá-la, de ser uma testemunha viva da sua manifestação na realidade, e, ainda que pontualmente, aqui e ali haja algum deleite, na totalidade esses deleites não passam de paliativos, não passam de uma refeição aleatória com a qual um transeunte maltrapilho é surpreendido em suas vagueações, um mero aperitivo para um espírito que persegue a fartura e tem a plenitude como seu norte. Em um mundo que tem a injustiça como um aspecto intrínseco à sua constituição e estrutura, viver como um faminto é uma vida digna e virtuosa, viver com a língua apegada ao céu da boca devido à sede intensa é uma vida que vale a pena ser vivida.