«Pululam hoje pela indústria cultural, pelos círculos mediáticos e pela universidade estudiosos e opinion makers que fazem do populismo uma espécie de fascismo do século XXI.Após a Segunda Guerra Mundial, como é sabido, o fascismo deixou de ser tratado como uma corrente política e cultural para se transformar num cómodo significante vazio destinado a designar tudo quanto seja odioso e desprezível. Obscureceu-se o caminho de acesso ao fascismo histórico na mesma proporção em que emergiu um fascismo eterno. Do mesmo modo se passa hoje com o populismo.O conceito é mobilizado pejorativamente para designar um modo simplesmente ignóbil e repugnante de fazer política, e oferece-se como particularmente útil, em discussões acaloradas, para estigmatizar rapidamente adversários sem a maçada de demais discussões. Ora, esse modo de usar o conceito encerra um problema que não é despiciendo: ele não só ignora a história dos fenómenos caracterizáveis como populistas, muito variados, mas sobretudo tolda a possibilidade de encontrar no próprio conceito possibilidades à partida insuspeitadas e uma fecundidade inicialmente imprevista.»