Os movimentos religiosos, em linha com a perspetiva metafísica cosmo-existencial e as tradições imemoriais consagrando a experiência mística, divinizando o infinito universo, como nos diversos matizes de panteísmo, retificam, de imediato, importantes divisões conceituais entre o sagrado e o mundo, a religião e a ciência, possibilitando, uma vez bem compreendidos, o surgimento decorrente de três tendências: unificação, ética e criatividade: unificação, ou paz, pelo reconhecimento intuitivo e direto da unidade universal; ética, pela compreensão de que somos parte da Natureza, e, certamente, não a finalidade e propósito da criação; criatividade, pela absoluta e imediata identificação, com o Universo criador.À luz da perspetiva metafísica cosmo-existencial, não há dogmas; não existe, interposto entre os sujeitos em comunicação e a criação – o mundo, o Cosmos e todas as teleologias – nenhuma entidade ou instituição superior, sejam igrejas, partidos ou elites, ditando regras e normas; o fenômeno ético – a real identidade do existente – reconhecido com lucidez revela a inteligência universal: o logos. Esta ascese filosófica requer cultivar um sentido de contexto e de perspectiva, de interconectividade, reconhecer a unidade dentro da diversidade assim como desenvolver uma profunda admiração e sentimentos de gratidão frente à complexidade, com uma postura corajosa e energética praticar o desprendimento, aceitar o inevitável. O cultivo da gentileza, fraternidade e amizade decorre, necessariamente, da prática panteística. Autoritarismos e dogmatismos são incompatíveis com o panteísmo que sintoniza com civilidade, cortesia e respeito; não se pode honestamente confundir panteísmo – uma forma teológica que preza e reverencia o mistério – com ateísmo ou materialismo. Epitetar de “panteística” alguma estrutura política ditatorial que martiriza a população – efetivamente um tipo rigoroso de ateísmo e materialismo – denota uma profunda ignorância metafísica, ou um sectarismo, quiçá o fanatismo dos que acham que não professar as suas próprias elaborações religiosas, não compartilhar da sua mesma fé, é prova de ‘ateísmo’; tais posturas obtusas e ignaras são, efetivamente, a causa basilar da desgraça humana.