Divindade olímpica maior, Zeus sempre teve na historiografia sobre o classicismo antigo um lugar de honra. Especialistas em literatura grega, especialistas em história das religiões, especialistas em arte grega e historiadores tout court, trataram desta divindade cultuada por gregos antigos sob as várias perspectivas possíveis. Arqueólogos também procuraram compreender melhor o culto de Zeus por meio de estudos de seus santuários, espalhados aqui e ali pelo mundo mediterrâneo grego. É diante deste arsenal de informações – e focalizando com precisão o tema da introdução e da posição ocupada pelo culto de Zeus na cidade antiga grega – que Lilian de Angelo Laky soube escolher a sua fonte primária: santuários e moedas. Documentação esta intrinsicamente ligada ao funcionamento da pólis: santuários construídos e monumentalizados por esforço público e moedas cunhadas sob a autoridade da cidade. Se Zeus não se vincula à pólis quando esta se origina em torno do século VIII a.C., por quais vias torna-se divindade de relevo quatrocentos anos depois? É o que se pergunta a pesquisadora neste trabalho premiado como melhor tese na área de Ciências Humanas da USP entre 2016 e 2017. Partindo destas premissas e procurando nas fontes materiais escolhidas o caminho percorrido pela divindade até ser apropriada como divindade de Estado entre as diversas póleis gregas, esse estudo demonstra como Zeus passa de uma divindade agrária, rural, a uma posição, no alto arcaísmo, de relacionamento direto a grupos militarizados de elites locais, para chegar no século V e sobretudo no IV a.C. a uma divindade estatal, cultuada no centro urbano das várias póleis. No interior da heterogeneidade do mundo grego no Mediterrâneo esta pesquisa consegue definir, com grande originalidade, os traços locais do culto de Zeus, mas também as tendências gerais que marcaram as principais feições da helenidade.