A proposta da obra é apresentar três ensinamentos dados pelo Buda que permitem remover as imagens distorcidas que surgem no espelho da mente. Estes reflexos que distorcem a realidade nos deixam perdidos num mundo de aparências, que podem levar ao surgimento das emoções aflitivas que causam muito sofrimento para nós e para os outros seres.
São apresentadas Três Portas que são na verdade modos de percepção dos fenômenos: seres vivos, coisas e situações. Ao atravessá-las entramos em contato direto com a realidade, uma vez que temos uma visão clara (insight) a respeito do que existe ou ocorre. Há obstáculos que podem obscurecer nossa capacidade de ver com clareza, especialmente para saber o que é prejudicial e o que é benéfico fazer, dizer ou pensar.
Os obstáculos podem ser como “buracos negros” na mente. Um buraco negro é uma estrela em colapso onde a força gravitacional é tão poderosa que até a luz é sugada e aprisionada. Quando os obstáculos são fortes, a luz da consciência é puxada para seu campo gravitacional e perdemos nossa capacidade de ver o que está acontecendo. Podemos nos perder em pensamentos ou fantasias nascidos dos obscurecimentos que podem nos levar a sofrer.
As distorções e obscurecimentos operam em todos nós; a presença deles não é uma falha pessoal. Em vez disso, é útil ver que ocorrência deles como uma oportunidade importante para investigá-los. Às vezes, é aconselhável que não tentemos nos livrar rapidamente desses obstáculos, mas usá-los como uma chance de aprender algo. Quanto mais forte o obstáculo, mais sabedoria obteremos ao investigá-lo.
Começamos com o ensinamento sobre as Duas Verdades, uma vez que no Budismo Mahayana a realidade é explicada através delas. Essa doutrina nos diz que a existência pode ser entendida como definitiva e convencional (ou absoluta e relativa). A verdade convencional é como geralmente vemos o mundo, um lugar cheio de coisas e seres diversos e distintos. A verdade última é que não existem coisas ou seres distintos.
Como veremos, a doutrina das Duas Verdades consiste no que é chamado de ensino provisório no Budismo – útil para onde estamos em nosso caminho, mas não a verdade final. A verdade final é que só existe uma realidade e ela une o relativo e o absoluto. A verdade absoluta é a verdadeira natureza do relativo. A verdade relativa é a manifestação do absoluto.
Exploramos cada uma das portas em seções próprias – impermanência, vacuidade e surgimento dependente – que procuram explorar os limites do mundo das aparências, para que possamos trascendê-lo pois ao tocar uma coisa com consciência plena, tocamos tudo – tocamos a realidade na sua dimensão última e nos libertamos de todas as aparências.
Na verdade, ao contemplarmos a impermanência dos fenômenos com atenção plena e concentração tocamos a realidade, atravessando essa porta também tocamos as outras duas portas que levam a realidade. Entretanto, não temos três realidades mas apenas uma só, que é não dual. Logo, impermanência é vacuidade e interdependência (interser). Por sua vez, vacuidade é impermanência e interdependência. Finalmente, interdependência é impermanência e vacuidade.
Este texto é uma ferramenta que pretende nos familiarizar com as noções budistas da impermanência, vacuidade e surgimento dependente através de uma abordagem gradual e torná-la uma experiência pessoal em todas as suas facetas.
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