Para a produção pornô – que vende intencionalmente um sexo espetacularizado e nunca pretendeu colocar em cena os valores morais da religião ou as diretrizes sanitárias da ciência, e menos ainda se propôs a apresentar uma prática sexual tediosamente “real” ou “verdadeira” – o universo dos prazeres e variedades carnais é antes de tudo diversão hiperbólica e jogo com os limites (corporais e/ou sociais), principalmente quando flerta com o perigo. Se o exotismo, com toda sua carga ambígua de curiosidade aberta ao diferente e estigmatização dessa diferença, é um dos alimentos indispensáveis da cultura de massa, o exotismo erótico é um verdadeiro banquete para a pornografia.E aqui entra a importância do trabalho de Dionys Melo dos Santos. Fruto de sua dissertação de mestrado em sociologia, o autor nos mostra neste livro que pesquisar sobre travestis ou pornografia não é um capricho excêntrico ou uma curiosidade fútil, mas é antes de tudo refletir sobre relações de poder, discriminação e luta por reconhecimento social de uma das populações mais vulneráveis em nosso país, que utiliza para sobreviver uma das mais ambíguas estratégias que possuem: a sexualização de suas figuras.
Jorge Leite Júnior, trecho do Prefácio