O objetivo desta obra foi analisar o imaginário social da pobreza, especificamente a situação das pessoas que vivem e moram nas ruas a partir das cartas de leitores de jornais nacionais. As desigualdades sociais e econômicas históricas, somadas às novas configurações globais capitalistas contemporâneas vêm sendo discutidas ao longo do final do século XX e adentram o século XXI como uma das principais problemáticas mundiais e em particular do Brasil. A partir dos anos 90, o crescimento econômico e o aumento do salário mínimo levaram a uma diminuição considerável do desemprego e da pobreza, no entanto, a pobreza extrema , na forma de condições precárias de acesso aos bens básicos de sobrevivência, ainda representa um contingente considerável da população, chegando ao mínimo diário para alimentação, caso de muitas pessoas em situação de rua no Rio de Janeiro. As pessoas que vivem nas ruas, tanto aquelas que possuem algum tipo de trabalho precário ou não, são classificadas como “população de rua” de uma maneira geral ou pessoas em “situação de rua”.De acordo com os dados da pesquisa, há uma consciência da desigualdade entre ambos os grupos e uma grande convergência entre povo e elite sobre a perspectiva da igualdade, sendo o Estado a instituição considerada responsável por garanti-la. Contudo, nenhum dos grupos assume o papel nas resoluções, nem se identificam como responsáveis.Assim, além da desigualdade propriamente dita, oriunda tanto de um histórico de uma sociedade excludente em sua formação, quanto de um sistema globalizante da economia no qual o Brasil está inserido, possuímos paralelamente um sistema social de representação que legitima essa desigualdade, que ignora a injustiça social sub-reptícia que embasa todo o sistema de distribuição social e colabora para sua perpetuação na medida em que banaliza a pobreza e culpabiliza o pobre. Naturaliza a desigualdade e artificializa a igualdade, hierarquizando e meritocratizando o esforço e a responsabilidade individual, tornando cega e normalizada a rotina da pobreza no Brasil.