As múltiplas questões a respeito do trabalho esotérico de Hilma af Klint estão cada vez mais pertinentes. A movimentação em torno da artista não é à toa. De um duvidoso título de precursora da vanguarda abstracionista a um elo expressivo entre os mundos espiritual e material, a artista ganha destaque pelos diálogos estabelecidos entre a sua obra e o universo artístico de Wassily Kandinsky e Piet Mondrian, através de conceitos e filosofias baseadas na Teosofia de Helena Blavatsky e Rudolf Steiner, a qual estaria em grande circulação a propósito de uma busca espiritual frente ao progresso modernista no final do século XIX. Hilma af Klint, porém, apresenta uma trajetória própria em que sua espiritualidade reveste sua obra de um caráter profundamente religioso e mediúnico, não encontrado em seus já citados pares. Portando-se menos como artista moderna e mais como sacerdotisa, Klint e sua obra indagam o que Walter Benjamin conceituaria como caráter aurático das obras de arte, uma vez que sua obra tensiona o secular e o divino, o tradicional e o moderno de maneira única e bastante diversa do que viria a ser feito pelos abstracionistas.
Obra com fins acadêmicos.