“Talvez eles esperassem que um escritor possuísse uma vida cheia de eventos e acontecimentos marcantes, contudo escrevo justamente por não ter vivido algo digno de nota. Meus livros são fantasias que não vivi, viagens que não fiz, amores que não conheci. Eles são a minha vida corrigida e passada a limpo, como ela deveria ter sido.”
Na noite de autógrafos da primeira obra que conseguiu publicar, um escritor reencontra dois conhecidos dos tempos de ensino médio; não outros senão os dois rapazes a quem sempre “shippou” e que inspiraram o livro publicado. Para relembrar os velhos tempos e se inteirar daqueles quinze anos decorridos, os três vão a um bar onde passam a noite regados a álcool e memórias. O escritor, homossexual não-assumido, inclinado ao erotismo e à pornografia, vislumbra, nas respostas sucintas que os dois dão às perguntas feitas, cenários de volúpia e sensualidade entre eles, embora a realidade seja distinta da imaginação dele. A entrevista começa com a seguinte pergunta: eles são um casal, afinal? Convencido de que sim, o escritor tece uma trama fantasiosa, um relacionamento que vai do “bromance” ao romance, ao passo que, ao leitor, é dado conhecer o que de fato aconteceu e contemplar o abismo que há entre uma ficção subjetiva e a realidade objetiva.
“Que mais posso dizer, quando tudo o mais já foi dito? Existe a minha verdade, existe a sua verdade, e, em algum lugar entre as duas, existe a verdade. Não sou narrador onisciente. A realidade, quando atinge os meus olhos, é deformada por uma percepção de mundo que é só minha, moldada pelas minhas vivências e referências. E, nas poucas vezes que me foi dado conhecer a verdade, eu cheguei à conclusão de que a minha verdade era mais interessante para mim.”