Nas últimas décadas, as Ciências Sociais vem estudando uma diversidade de temas que, anteriormente, pareciam não merecer o crédito adequado. Entre os temas estudados encontramos os presídios e no mínimo dois posicionamentos acerca do aprisionamento nessas pesquisas. De um lado, existe uma visão que, apesar de conhecer os problemas atuais do sistema penitenciário, afirma a sua necessidade para o bem coletivo e o controle da violência, como regulador social. Para esses teóricos, há uma série de dispositivos que fazem parte do sistema penitenciário que possibilitam a reabilitação do individuo, seja pelo trabalho, ou pela educação, assistência jurídica, médica e religiosa, entre outras práticas nessas instituições.Por outro lado, encontramos os teóricos que não reconhecem no sistema penitenciário alguma possibilidade de reabilitação do individuo, visto que os presídios são compreendidos como uma estratégia inserida em um sistema de dominação, dando legitimidade à violência do Estado.Desviando o olhar dessas duas grandes visões sobre a instituição penitenciária, temos os indivíduos que ali se encontram. Estes geralmente são vistos somente pelos símbolos e códigos compartilhados dentro do universo da prisão como uma cultura delinqüente própria, esquecendo-se de que muito do que se vive e se faz no presídio, nada mais é do que a reprodução da sociedade mais ampla.Com o objetivo de apresentar um novo olhar para a reclusão, este livro propõe entender as possíveis relações entre o lazer e o presídio. Para isto, uniu três experiências diferentes sobre os presídios, conferindo assim uma amplitude de olhar para o fenômeno.A primeira experiência é proveniente da pesquisa de mestrado do Marco Antonio Bettine de Almeida, realizada no ano de 2003, na qual foi possível acompanhar de perto a rotina e os tipos de lazer disponíveis no Cadeião de Campinas. A segunda experiência deriva da participação da Débora Cidro no programa de aprimoramento profissional no manicômio judiciário na cidade de Franco da Rocha, nos anos de 2009 e 2010. Como complemento necessário à produção do livro, apresentamos brevemente a história e uma visão geral da atuação da Pastoral Carcerária, contada por Semíramis Costa Chicareli, que teve a oportunidade de trabalhar como psicóloga em algumas de suas frentes nos anos de 2009 a 2011, e também como parte de sua dissertação de mestrado sobre a organização, em andamento no presente momento, demonstrando que tal organização não se atém somente à assistência religiosa, como também na crítica ao sistema penitenciário e na defesa e promoção dos direitos humanos às pessoas em privação de liberdade. Por meio de um olhar habermasiano sobre o lazer nos presídios, mesmo sem fechar os olhos aos problemas e à violência do sistema penitenciário, pretendemos fornecer uma leitura que busque mostrar outros olhares para a realidade penitenciária.