Um sábio disse um dia: – “Não creio em fantasmas, mas, no entanto, tenho tido medo deles toda a minha vida!”Quantos de nós garantimos que não somos supersticiosos e, contudo, não gostamos de iniciar seja o que for à sexta-feira, particularmente se coincide com o dia 13! Se nos hospedamos num hotel, recusamos o quarto nº 13. Em alguns edifícios construídos expressamente para escritórios e em muitas casas de banho, atendendo a esta espécie de aversão supersticiosa, os donos ou proprietários cortam completamente o nº 13. – Não gostamos de passar por baixo de uma escada! Azaramos o nosso dia, se nos cruzarmos acidentalmente com um gato preto ao partirmos para alguma jornada! Temos uma má previsão pelo simples fato de ouvir uivar um cão de noite! – Puxemos, enfim, pela memória e desfiemos esse rosário tenebroso das nossas superstições infantis, à luz plena deste século em que toda a gente se julga sábia!...Quantas pessoas há que se escandalizariam se lhes chamassem supersticiosas e são, todavia, presas dos mais absurdos terrores?! Existe na sua subconsciência um receio indefinido, mas oculto, de que qualquer eventual desgraça lhes aconteça. E chegam ao ponto de dizer às vezes que estão possessas “possuídas pelo demônio!”Orison conheceu uma cantora admirável que, um dia, no meio de um recital público e precisamente no auge do seu entusiasmo, subitamente sua voz caiu de tal forma e tão inesperadamente, que ela, presa do maior desgosto, renunciou à sua carreira. Porém, depois de ter sido realmente estimulada, concordou em prosseguir e – fato extraordinário! – quando experimentava cantar o mesmo número, a voz falhou-lhe precisamente como antes! Por três vezes sucedeu este fato lamentável, o que tornou histérica a pobre mulher, pois havia se dedicado muito àquela carreira e via assim perdidos tantos anos de estudos e canseiras.Felizmente, o acaso proporcionou-lhe encontrar-se com alguém que lhe sugeriu a ideia de que essa perturbação era de origem mental e não física e que, se cultivasse a sua força de querer, conseguiria vencê-la. A artista tinha ido previamente a um especialista, que lhe garantira que os órgãos vocais nada tinham de irregulares. Fora-lhe dito pelo seu professor de canto que o seu timbre de voz era perfeito e ela teve o bom senso de compreender e de se convencer profundamente de que a causa dessa perturbação era exclusivamente mental; era uma obsessão do medo! Obedecendo à influência dessa sugestão, cantou novamente em público; repetindo a si mesma: – “a voz me pertence; sou senhora dela” – e obteve, finalmente, um esplêndido sucesso.Todos nós sofremos, mais ou menos, de um medo ou de uma apreensão própria de criança, de que somos inteira ou parcialmente inconscientes. Lembremo-nos, por exemplo, de quantos dias, e semanas até, antecipamos apreensivamente qualquer acontecimento da nossa vida – o nosso casamento, uma nova posição ou o início de um negócio por nossa conta – e não nos sentimos bem. Receávamos que alguma coisa surgisse, que viesse destruir os nossos planos. Enchia-nos a alma um sentimento apreensivo de aflição, uma espécie de pesadelo e depressão mental, alguma coisa, enfim, que não podíamos separar de nós e, por mais que tentássemos arrancar do nosso íntimo essa preocupação indescritível, essa visão fantástica de que alguma desgraça nos esperava, menos capazes nos sentíamos de o conseguirmos. Não nos convencíamos de que esta preocupação era filha do nosso espírito e de que, quanto mais atentássemos nela, mais ela crescia no nosso entendimento.Leia mais