Não há muito tempo ainda que os monarcas viviam sob um medo constante de envenenamento. Nunca se serviam das refeições, sem primeiro os criados e cozinheiros comerem um tanto desses alimentos. Isto se dava ainda recentemente com alguns soberanos coevos, como, por exemplo, o Czar da Rússia e o Sultão da Turquia.Muita gente diria talvez que uma vida assim não valia a pena ser vivida. E, contudo, poucos há na grande massa humana atual que não vivam envoltos numa sombra constante de medo.Não sabem, é certo, dizer bem aquilo que temem, mas receiam sempre alguma coisa. Têm como que o pressentimento de uma desgraça iminente, uma sensação de qualquer ameaça suspensa sobre a sua cabeça, o temor vago de uma fatalidade que avança para eles e que não podem evitar. Ouvi-los-emos dizer a cada passo: “Tenho bem a certeza de que me vai acontecer alguma desgraça! Não sei se é morte, doença, ou qualquer acidente na família, mas alguma coisa de ruim se aproxima.”Um homem tinha um amigo que vivia sempre envolto nas sombras do medo, e que estava sempre a ver surgir adversidades nos horizontes da vida. Raras vezes este homem o encontrava sem que ele não lhe comunicasse a proximidade de alguma catástrofe; que estávamos em pleno lançamento para a destruição; que íamos atravessar épocas terríveis, falências mais desastrosas do que as que já tínhamos atravessado. “Antes da primavera teremos o pão por ração e as cozinhas econômicas para toda a gente!” “A filosofia bolchevista vai se alastrar pela face do mundo; o trabalho vai estrangular o capital, e isso significa o caos e a ruína!” Ele temia sempre a falta de saúde, algum acidente com a esposa. Em suma: não havia nada dentro da categoria de males humanos que ele não sofresse de antemão. Este mesmo homem conhecia este sujeito há muitos anos, e poucas, ou nenhumas, das eventualidades medonhas que ele predizia, sucederam!Não somos todos, até certo ponto, como ele? Quase toda a gente que este homem conhecia se mortificava com alguma coisa, e antecipavam em espírito qualquer desastre ou infelicidade. Está calculado que há mais de cinco mil espécies de medo diferentes. De fato, o medo, em todas as suas diferentes fases de expressão, tais como – mortificação, ansiedade, ódio, inveja, timidez, suspeição, ciúme, intolerância, soberba e avareza – escurece e estropia “deforma; invalida” a vida da humanidade.O medo é o maior inimigo do Homem.Tem roubado dos homens mais felicidade e abundância, tem-nos feito mais covardes, mais medíocres, e tem causado mais falências, mais crimes e suicídios do que qualquer outra calamidade. E, contudo, este demônio inveterado “enraizado; permanente,” com todo o seu acompanhamento de atribulações e danos, é a maior ilusão que o homem cria na sua alma. O medo é uma preocupação imaginária tão irreal como uma catarata “abismo” ou como os objetos dos sonhos.Não importa a hedionda fisionomia que tem; deixemo-lo entrar na alma, mesmo assim, ao primeiro enfraquecimento da coragem e do bom-senso. Mas, apesar disso, desaparece-se ao primeiro sopro de ousadia, de intrepidez. A maior parte dos homens atravessam a vida desde o berço ao túmulo, sofrendo, lastimando-se, muitas vezes levados ao desespero, por um medo ou outro – falência, pobreza, fatalidade, doença – casos estes dos quais em cada dez sucede um ou não acontece absolutamente nenhum.É um fato verificável que muita gente morre sob a influência do medo, como tem sido observado em grandes epidemias, cuja sugestão tem sido ainda uma calamidade maior. Milhares e milhares de pessoas têm manifestado todos os sintomas da cólera ou de outra qualquer doença terrível, antes de haver possibilidade física de contágio, e morrem sob a sugestão de que estavam atacadas por essa mesma doença.Leia mais