O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora. Quem passa fome aprende a pensar no próximo, e nas crianças"Carolina Maria de JesusLivro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada10 de maio de 1958.Escrever sobre fome ou suas variantes semânticas e nutricionais como insegurança alimentar leve, grave ou moderada e sua correspondência no universo jurídico, através do Direito à Alimentação ou Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), não é tarefa datada e o Diário de Carolina Maria de Jesus é potente em sua triste atualidade ao desvelar o quanto a fome continua intergeracionalmente solidária em nosso país.Os sistemas agroalimentares, regidos há muito pelo pelas estruturas produtoras de commodities ou alimentos-mercadorias, acrisolam a produção regular de alimentos de 1º necessidade, sãoa codependentes do uso de agrotóxicos, questões que afetam diretamente a sociedade, por esta razão que o tema proposto no livro congrega DHAA com um olhar para a justiça ambiental, uma categoria de ordem pública, vinculante, em face da anuência do Brasil na denominada Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas.A presente coletânea de artigos é fruto de encontros que a pesquisa e a indignação coletiva são capazes de movimentar, ainda que nos pálidos, mas não menos importantes, muros acadêmicos. Assim, temos um conjunto de autores e autoras com experiências diversas; alguns debutando na escrita acadêmica com seu primeiro capítulo de livro, enquanto outros são pesquisadores experimentados na arte da escrita.A obra conta com 8 capítulos que, tal qual um caleidoscópio, vai girando em busca de diferentes enfoques da temática alimentar e nutricional. Assim, abrimos a obra com o capítulo: “O trabalhador da indústria fumageira: fome, ods 2 e agrotóxicos” de Elcemara Zielinski Cani e Roberta Oliveira Lima. Na sequência trazemos a importante correlação entre Direito Tributário e Agrotóxicos com o capítulo: “A tributação ambientalmente orientada dos agrotóxicos, recomendada pelo Tribunal de Contas da União, à luz do princípio da seletividade tributária em função da essencialidade do produto” de Jackson Torres.O terceiro capítulo traz uma abordagem calcada nas ciências ambientais e aborda: “Os efeitos da Revolução Verde e do avanço da agricultura convencional sobre a marginalização das consequências ambientais e o desrespeito ao DHAA e ao ODS 2, de João Vitor da Costa e Silva.O quarto capítulo debruça-se sobre o paradoxo dos recordes de exportação de grãos com a concomitante explosão de fome no país, sendo batizado como: “O agro é fome: riqueza para poucos e fome para muitos” da lavra dos coordenadores da presente obra.O capítulo quinto coloca cartas na mesa e traz a questão racial para a roda ao tratar do tema: “Racismo na mesa: ODS 2, Direito Humano à Alimentação Adequada e a fome na periferia pós covid-19”, de Aline Gomes Mendes e Jhulia Ferreira MedeirosO sexto capítulo aponta o foco caleidoscópico para o mote “Da desregulamentação dos agrotóxicos às alternativas ao desenvolvimento” de autoria de Mariana Letícia Rosa Brito.Quase no encerramento da obra, voltamos ao ambiente de trabalho, não mais rural, mas urbano, com a abordagem sobre: “A precarização das relações de trabalho como fator prejudicial ao direito à alimentação adequada: o empregado intermitente exposto à fome” de Pablo Souza de Alexandre e Matheus de Amorim Moura Cunha.Por fim, a vulnerabilidade da infância é posta em atenção com o capítulo: “Intoxicação exógena por agrotóxicos em crianças de até cinco anos: uma abordagem sobre o DHAA”, de Washington Barbosa e Angélica Souza.Desejamos uma boa e inquietante leitura, além de um chamado real à ação rumo à segurança e soberania alimentar.Da Apresentação de Roberta Lima e Júlio Moreira (Coordenadores)Leia mais