Às duas e onze da manhã, acordei.Estava escuro, como era de se esperar àquela hora, as cortinas cerradas escondiam meu quarto cuja única iluminação provinha do horário no despertador, piscando em vermelho. Abri os olhos de modo preguiçoso, fitando os números vermelhos piscando na cômoda de cabeceira.02h12min.02h13min.02h14min.As duas e quinze, o telefone tocou.Eu não desceria ao andar de baixo para atender, não havia ninguém que pudesse me ligar tão tarde; minha família não existia mais, nenhum parente vivo em uma longa linhagem de filhos únicos. Aos quarenta e oito anos de idade, pouca coisa era capaz de me tirar da cama tão tarde. E eu sabia muito bem quem ligava.Nos últimos dez anos, toda madrugada às duas horas da manhã e quinze minutos, o telefone tocava. A linha não era minha, já estava na casa quando a comprei. Tudo permanecia nela, e quando digo tudo, quero dizer as roupas dos antigos moradores, utensílios, itens pessoais, móveis, comida.Leia mais