A proposta da obra é dar continuidade ao primeiro volume, oferecendo referências não só válidas, mas também reflexivas a respeito da positividade tóxica e a felicidade compulsória que se fazem presentes quando temos que nos relacionar com pensamentos, emoções, desejos, temores, pessoas, coisas e situações. Há então uma cisma por parte dessa positividade austera e compulsória contra pensamentos e emoções que geralmente são rotulados como negativos.Parece que o ingrediente chave da positividade tóxica não é a positividade em si, afinal. Pelo contrário, tem mais a ver com a reação do indivíduo, quando ele vê a felicidade idealizada ameaçada pelas experiências negativas da vida. Deludido, então ele ignora ou esquece que a perspectiva de experimentar dor, fracasso, perda ou decepção na vida é inevitável. A pandemia do coronavírus serve de exemplo, pois acabou afetando a todos. Vidas e mais vidas foram perdidas enquanto outros sobrevivem com ou sem sequelas. Ninguém pode ser culpabilizado só porque pensou ou se emocionou com a possibilidade de ser infectado pelo vírus, seria até desumano tendo em vista a capacidade de disseminação da Covid-19. Mas é exatamente isso que a positividade tóxica faz, ela coloca toda a culpa no doente.Através de frases curtas, citações e perguntas que promovem a reflexão, o leitor é levado a ponderar sobre o que é bom para todos, empregando aquilo que lhe é inerente: a razão. Em várias páginas podem ser encontrados três símbolos de interrogação (???), indicando que se está diante de um questionamento apesar de ser uma afirmação, pois o que se quer é a ponderação.O livro adota um enfoque cético mas que é racional e positivo, que além de procurar manter a mente aberta, parte da premissa de que fazer o bem aos seres vivos, não lhes fazer o mal e não lhes prejudicar, depende também de não promovermos a dúvida e a incredulidade irracionais com propósitos gananciosos. Afinal, respeitar a dignidade do outro também é prezar a sua inteligência.São propostas inúmeras questões, por exemplo:- A positividade tóxica se apoderou dos vieses que incidem sobre a nossa humanidade: o viés da negatividade e o viés otimista.- Tantas pessoas oscilam. Tantas necessitam de uma pausa. No entanto, são desumanamente rotuladas como apáticas e infelizes. São taxadas de desmotivadas ou preguiçosas, pois haveria uma razão ou causa primeira: a falta de entusiasmo. Desse modo, humanos são cruelmente divididos em dois grupos: entusiásticos e apáticos. Na prática, a flutuação no entusiasmo é natural no ser humano, assim como um eventual perda de entusiasmo que pode ser provocada por alguma doença, desconforto, cansaço da pressa cotidiana, estresse, esgotamento etc.- A positividade tóxica trabalha pelo menos com três imperativos. Primeiro, é obrigatório abordar tudo com otimismo: coisas, pessoas e situações. Segundo, sempre demonstrar gratidão, ou seja, ser grato é um dever nessa abordagem psicológica. Terceiro, irradiar felicidade é uma exigência, a linguagem corporal deve demonstrar enorme satisfação com arroubos de alegria: sorrisos postiços, agitação dos braços e pernas, elevação das sobrancelhas etc. Estamos falando de uma tríplice imposição que padece pelo seu artificialismo e que se baseia num cálculo, numa expectativa de ganho. A carência de espontaneidade é tripla, pois além de nenhuma delas vir do coração nem resultarem da sabedoria de cada indivíduo. Há por trás delas uma concepção de mundo idealizada, na qual se vive uma vida substituta, uma existência de "deverias".São reflexões como essas que vamos encontrar a cada página, que pretendem questionar as nossas convicções. O que se quer, é que pensemos por nós mesmos e não como o autor pensa. Trata-se de uma excelente oportunidade para exercitarmos a dúvida saudável, que leva ao esclarecimento daquilo que é potencial ou inegavelmente nocivo.Leia mais