PREFÁCIOGenival Oliveira GonçalvesGOG, POETA, RAPPER.Diretamente do campo de combate, onde se trava uma das batalhas mais violentas da história da humanidade é de onde chegam às notícias, Cidade: Samambaia, Brasília/DF.A questão está bem além de simples constatações ou meras coincidências.É uma visão apurada de quem conhece como poucos o dia a dia das comunidades desassistidas e de gente que parece ter sido condenada desde o seu nascimento em um dos Pelotões da “Guerra às Drogas”. O Regimento 4Ps+.O autor escreve e descreve com riqueza de detalhes a pobreza de sentimentos dos que deveriam ser os “protetores sociais”, mas que na realidade se tornaram os maiores provedores do sofrimento de grande parcela da população, apoiados pelo cientificismo e por classes sociais abastadas que se julgam racial, social e hierarquicamente superiores; incluindo o outro grupo, numericamente maior, apenas como mão de obra barata, ou seja, mal remunerada, e propensos “cometedores de crimes passíveis de encarceramento”. Seria o resumo da matéria, um final feliz para os detentores dopoder e da governança. No entanto, são de várias batalhas que se constituem as guerras e o grupo 4Ps+ passa a ter sua voz ampliada e amplificada nas linhas do Dr. Portela, advogado, professor e um dos Djs mais importantes docenário Hip Hop do Distrito Federal.Parece contraditório, a Justiça e um estilo musical ligado, segundo boa parte da sociedade, ao crime, e a falta de cultura estarem tão próximos. E assim começam os julgamentos, os preconceitos e as deturpações da realidade, largamente denunciadas no discorrer das páginas desse livro tão necessário para o entendimento de como territórios, a princípio tãoadversos, quase antagônicos, precisam dialogar e trabalhar conectados para a superação de problemas históricos da nação brasileira.Esse “dedo na ferida” machuca, faz doer! É um ato de coragem, um brado de quem vivendo o dia a dia próximo ao cárcere, aos Tribunais, as famílias dos cidadãos presos e do sistema prisional na sua complexidade,percebe a urgente necessidade de se mudar o rumo, “sabotar o plano”.Já nas primeiras páginas o leitor será desafiado a reescrever conceitos, reavaliar posições e também a se sentir parte de “um todo”. O Dr. Portela nos faz refletir sobre a nossa visão de estarmos distantes do problemae expõe a ”Guerra às Drogas” como algo sistêmico, inclusivo, que não poupa nenhum escalão da sociedade, nos deixando evidente que ferimos a nós mesmos ao selecionarmos “mocinhos e bandidos”, “cidadãos do mal e dobem”.A grandeza e importância dessa obra se faz presente nos relatos cotidianos, longe dos escritórios climatizados, o recado é mandado diretamente da cidade satélite de Samambaia, onde mantém seu QG atuante.A “cidade dormitório” é das mais populosas do Distrito Federal e importante fornecedora de “material humano encarcerado” na capital do país.Desde a sua diplomação, Dr. Portela, influenciado por uma infância carente e pelo movimento que primeiro o acolheu, o HIP HOP, fez juras de lealdade a sua comunidade, e a promessa de defender, dentro da instruçãolegal, seus pares, gente que viu crescer, ser seduzido e abduzido pelo mundo ilegal.Em nenhum momento ele apoia a desordem ou a criminalidade, mas questiona tanta coincidência. É como se apenas uma parte da sociedade cometesse crimes, essa mesma parte julgada, condenada e massacrada pelamídia e consequentemente, pela opinião pública.O Sistema Judicial Brasileiro parece em alguns momentos, agir em um território e apenas “pairar” em outro, vagando do “sol quadrado ao ardente”. Esta lançado o desafio!Mergulhar nessas linhas tão preciosas e colher o ouro, que é o legado de uma visão compromissa...Leia mais