Ao iniciar minha carreira acadêmica seguindo o paradigma biomédico, o método utilizado em qualquer pesquisa de laboratório era o método cartesiano clássico, de reduzir o problema nas suas menores partes e estudá-las em separado.É assim que estudamos a biologia molecular, a imunologia, a genética, e todas as áreas das ciências biomédicas. Porém, com o tempo, comecei a me deparar com problemas complexos, como sinais eletrofisiológicos do coração e do cérebro, a organização do genoma humano no núcleo das células, a dinâmica de espalhamento da COVID-19, a análise das sequências genéticas de diferentes coronavírus.Um cientista, em geral, tende a simplificar ao máximo um problema para só então buscar entender as suas consequências. Mas as grandes questões relacionadas à biologia, do DNA ao cérebro humano, só fazem sentido se estiverem em contexto, e só podem ser minimamente compreendidas se levarmos em consideração a sua complexidade.Apesar de muitos pesquisadores terem abordagens e linguagens distintas nas suas áreas do conhecimento, o mundo continua sendo o mesmo, pois a galáxia continua existindo para o microscopista focado apenas em analisar os cromossomos, e as células continuam a desempenhar as suas funções para o astrônomo focado nas estrelas. Portanto, seja lá qual for a sua visão de mundo, uma coisa é certa: se quisermos imaginar um futuro para a nossa espécie neste planeta, temos que conectar as nossas visões de um mesmo mundo.Apresento neste livro algumas das visões que adquiri das vivências trabalhando em ciência, que incluem minha experiência durante um estágio de doutorado na Inglaterra, investigando os efeitos biológicos das radiações ionizantes, no mesmo ano em que ocorreu uma contaminação radioativa por Polônio-210, em Londres. Também relato quais pesquisas realizei durante a pandemia de COVID-19, já nas primeiras semanas deLeia mais