A Teimosia das Ciências investiga o envolvimento das Ciências na vida das pessoas de forma surpreendente, e é relatada, em vários capítulos, por estudantes do Programa de Pós-graduação em Educação, Gestão e Difusão em Biociências (PEGED) do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da UFRJ. A ponte existente entre Arte e Ciência,um tema muito apreciado pelo professor Leopoldo de Meis, foi recorrentemente utilizado pelos autores em seus textos. Gabriela Reznik, em sua análise sobre Ciência na animação autoral no Brasil, traz suas reflexões e discute o caráter pedagógico do cinema. Ela mostra que a exibição de filmes nas escolas permite ampliar o conhecimentodos alunos e, assim, eles conseguem se situar no mundo, desde que nos filmes se articulem, de forma adequada, aspectos éticos e estéticos com a diversidade cultural.Victoria Borges analisa o filme Metropolis (1927), de Fritz Lang e Thea von Harbou, filme que, com base nos conhecimentos científicos da época, projeta para o então longínquo anode 2026 uma sociedade do futuro. Nada mais atual, pois a sociedade imaginada é desigual e injusta. A autora nos mostra como o cinema faz a ponte entre a Ciência, a tecnologia e a população. O texto de Fábio Alencar, por sua vez, discute as razões da desigualdade social em que vivemos. Apesar de inegáveis avanços científicos, o autor observa que nãohouve benefícios para a maioria da população do nosso planeta. O relato pungente de Raquel Leal, em seu texto "Universidade do Brasil e o Brasil que ela representa", nos mostra, através de sua experiência pessoal, o significado real da desigualdade social imposta pelo neoliberalismo. Mesmo morando ao lado da UFRJ, na comunidade da Maré,ela teve de percorrer um longo caminho até chegar à universidade e à tão almejada Ciência. No texto "Invenções e inovações", Andréia Galina e Larissa Medeiros analisam, sob uma perspectiva histórica, como o Brasil procura o mundo do amanhã. Utilizando o desenho infantil Thomas e seus amigos, que organizam uma Feira de Tecnologia,elas discutem os conceitos de descoberta, invenção e inovação e como esses conceitos foram e estão sendo utilizados no ambiente internacional e brasileiro. O texto de Marcelo Corenza sobre a tuberculose no sistema prisional brasileiro, mostra novamente uma sociedade desigual e injusta. A população carcerária brasileira (cerca de 750.000 apenados) é composta majoritariamente por pessoas com baixa escolaridade e, como se isso não bastasse, tem 28 vezes mais risco de contrair tuberculose que a população livre.Com a substituição do ensino presencial pelo remoto, devido à pandemia de COVID-19 que atormenta a todos desde 2020, o texto de Roseday Nascimento mostra a existência de professores e alunos sem internet, sem computador, sem celular, e que são invisíveis aos olhos do sistema educacional.A discussão desse problema serve de alerta aos governantes responsáveis pela educação em nosso país. Em "Pandemia e produtividade acadêmica",Valquíria Barros nos mostra como a pandemia afetou de forma desigual a vida de pesquisadoras e pesquisadores com consequências na produtividade. A pandemia da COVID-19 ressaltou como a dinâmica social brasileira, de herança colonial, se mostra até mais perversa em tempos de reclusão.O fio condutor das diferentes narrativas foi a Ciência, a Arte e a existência de uma sociedade desigual na qual a Ciência por si só não foi capaz de modificar esse quadro de desigualdades sociais. Por isso mesmo, os autores nos convidam a uma profunda reflexão, ao mesmo tempo em que nos convocam – como professores, cientistas e estudantes – a persistir nessa tarefa de trazer novos conhecimento para a população em geral.Hatisaburo MasudaProf. Emérito da UFRJLeia mais