Embora a história do humor no Brasil tenha mais de cem anos — com reflexões feitas em campos como a literatura, o teatro e a caricatura —, esse tema é recente na área de História acadêmica, que ganhou corpo a partir dos anos 1980. Foi no ambiente intelectual marcado pelos pós-estruturalismos e pela História Cultural que historiadores como Marcos Antonio da Silva, Elias Thomé Saliba, Isabel Lustosa, Mônica Pimenta Velloso e Raquel Soihet passaram a mobilizar vestígios das manifestações humorísticas para lidar com problemas e contradições, especialmente a modernidade na Primeira República (1889-1930). Sobretudo em São Paulo e Rio de Janeiro como recorte espacial, a República ganhou novas luzes e nuances quando vista pelo prisma do riso e do risível, através de manifestações como o samba e o carnaval, charges, caricaturas e paródias, crônicas e romances, palestras, música, rádio e teatro.Nesses estudos, o humor expressa os impasses de um tempo marcado pelas contradições e desigualdades da urbanização, industrialização e ruptura política institucional, que mobilizaram as indagações e expectativas de intelectuais, literatos e jornalistas sobre a construção “nacional”, então assombrada pela imagem do progresso civilizatório modelado pela Europa e reiterado por artefatos tecnológicos. Por meio de recursos corporais, visuais e verbais, essa imagem triunfante foi deslocada por diversos humoristas com crítica e irreverência.Este livro foi materializado em meio à pandemia de covid-19 (entre os meses de novembro de 2020 e julho de 2021) num momento em que rir se tornou um ato de difícil realização. Agradecemos a todos os colegas do grupo de pesquisa Humor e História (USP), mesmo os que não puderam participar desta coletânea, pela construção de um ambiente intelectualizado subversivamente humorístico.Leia mais