Lambida trata das duas forças irresistíveis e inseparáveis: sexo e morte. Com leveza, humor e irreverência, o romance conta o reencontro dos primos Fred e Sofia, depois de uma separação de doze anos, enquanto a mãe de Sofia está em coma, sem esperança de sobrevivência – como Fred e Sofia lidam com o desejo, a morte e as relações familiares, às vezes complicadas, às vezes absurdas. Deve-se notar a absoluta naturalidade com que os personagens aceitam o sexo e a morte: a vida é isso aí, não um escândalo ou uma injustiça. Ao fundo se agita a sombra do Brasil, o país brutal que todos conhecemos. Um dos desafios de Ernani Ssó foi tratar do cotidiano e de dramas tipo feijão com arroz de modo que a força da gravidade não tire o livro das mãos do leitor. Outro foi, depois de limpar a área das emoções, tentar desarmar o seu reflexo: a linguagem violenta e ofensiva, às vezes ridícula, ou delicada demais quando se trata de sexo. Como diz o autor, é preciso que as palavras do amor sejam palavras, não palavrões. Para encerrar, o autor sai num mano a mano com o português brasileiro tão falado e tão pouco escrito, principalmente nos diálogos. Acha que os diálogos não podem continuar monopólio de Nelson Rodrigues e Dalton Trevisan no Brasil.
Lambida (Edições Mamute, 2019), romance, 296 páginas, capa de Daniella B. Rocha, somente em e-book na Amazon.
Ernani Ssó é autor de vários livros infantis, como Amigos da onça e Contos de morte morrida (Companhia das Letrinhas, 2006 e 2007) ou As lendas urbanas da morte (Alfaguara, 2015). Seu último romance para adultos foi Como o diabo gosta (Cosac Naify, 2015). Ganhou o Prêmio Cyro Martins de Melhor Romance, 1996, para O emblema da sombra; e o Prêmio Rodolfo Aisen de 1999, da União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro, para O edifício – Viagem ao último andar, entre outros. Tem, ainda, uma extensa lista de traduções do espanhol, como Dom Quixote de la Mancha (Penguin-Companhia, 2012) e Novelas exemplares (Cosac Naify, 2015), ambos de Miguel de Cervantes.