Em A Condessa Vésper (1882), o escritor Aluísio Azevedo constrói uma protagonista-demônio. Ambiciosa, mentirosa, falsa, adúltera, ladra, prostituta, sedutora e homossexual, ela é hiperbolicamente negativa. Chamá-la de dissimulada seria uma ironia, e não uma adjetivação. A questão não é estudar o caráter da maldade da protagonista do folhetim Memórias de um condenado (primeiro título), mas perceber, nessa construção quase carnavalesca, as intenções de recepção do romancista. Ele satisfaz uma classe leitora cuidadosamente estudada e tenta, pelas entrelinhas da narrativa, escrever uma obra emancipatória…