Esporos conta a história de um cosmonauta, que, durante uma longa missão ao espaço profundo, relembra sua trajetória de vida. As memórias do herói revelam a tensão constante entre a curiosidade e a saudade, entre as raízes que o acompanham e o situam em qualquer lugar do universo e o desejo de exploração do desconhecido. A tensão entre origem e destino se apresenta como um ciclo, no qual ir embora é também uma forma de voltar.Para além da dimensão introspectiva, no entanto, as memórias revelam um mundo pós apocalíptico, reconstruído na forma de uma sociedade utópica. Após uma sucessão de tragédias que levaram ao colapso do sistema de governos nacionais, agrupamentos humanos sobrevivem isolados em comunidades secretas. Com o passar das gerações, essas comunidades se reencontram e se organizam em redes de solidariedade, dando origem a novas formas de estruturação social e territorial. A sociedade que emerge se inspira nas redes, se funda no uso intensivo, porém humanizado (e verdadeiramente racional), da tecnologia e se legitima pela exploração espacial.Inspirado no nascente gênero “Solar Punk”, Esporos mescla distopia e utopia, propondo uma reflexão sobre futuros possíveis. O argumento não foge da crítica contundente das decisões e dos rumos que a humanidade vem tomando, no entanto, mais que apenas apontar o que pode dar errado, busca encontrar no presente as ferramentas para a proposição de soluções e para a construção de caminhos alternativos de futuro.Em meio à transição social, o cosmonauta nos recorda do elemento humano que permanece constante. Seu percurso encarna a transição entre o conforto e a intimidade da vida familiar e o mundo desconhecido que se descortina diante de seus olhos (as descobertas dos lugares, do passado, do futuro). A viagem espacial aparece, por fim, como a culminação da trajetória do herói (e da humanidade) e como o retorno a uma casa, cuja noção vai sendo redefinida ao longo do texto.Leia mais