Os ensaios aqui publicados fazem parte de uma reflexão ampla acerca de algumas questões do desenvolvimento da Ciência moderna, visando promover a aproximação dos seus vários ramos, que tendem a viver como ovos numa caixa: juntos, mas sem se tocarem e, logicamente, sem se conhecerem. É o caso, em particular, da Psicologia e da Física, duas ciências que poderiam beneficiar em evoluir juntas; sendo o conhecimento mútuo da História e da Epistemologia de cada uma delas, uma das formas possíveis de o conseguir.O primeiro ensaio articula-se em torno de Galileu, que estabeleceu um rumo que perdura até hoje, ao instituir uma forma de conceber e praticar a pesquisa científica; pousando metaforicamente a primeira pedra de um edifício que se viria a revelar formidável; lançando ou relançando um movimento vasto e sublime, a «emancipação pelo conhecimento», que faz parte da influência libertadora da Ciência, uma das maiores forças que concorrem para a liberdade humana.O segundo ensaio promove a mesma aproximação, sob um ângulo bastante diferente: se a Psicologia tem muito a aprender com a Física, a Física também poderá aprender algo com a Psicologia, designadamente acerca do chamado contexto epistemológico da descoberta científica. Nesse sentido, o famoso epigrama atribuído a Ernest Rutherford — «all science is either physics or stamp collecting» — que esteve na origem de um quiproquo duradouro, serve de pretexto para mostrar que as operações de raciocínio pressupostas no gesto de coligir — como «seriar» ou «classificar» — poderão ser precursoras de outras operações mentais mais complexas, necessárias (mesmo que não suficientes) para o exercício da investigação científica. Servindo de igual modo de pretexto para aduzir a inexistência de uma única via de acesso ao conhecimento; ou um modelo singular, ou um método específico, para conceber e construir conhecimento, à custa da exclusão de todos os outros. Nem em Física, nem nas outras ciências.