O objetivo do livro é descrever e analisar o cuidado de si em Michel Foucault como uma prática de si, da subjetividade e de voltar-se sobre si mesmo. O pensador francês, por meio do método da arqueogenealogia, visita a tradição grega e romana, de matriz socrático-platônica, com ênfase nas filosofias epicurista, estoica e cínica dos dois primeiros séculos da era cristã, denominando-os a era de ouro do Cuidado de Si, da genealogia do sujeito. Nesse contexto do mundo helenístico, a função da filosofia é estimular a pessoa a praticar a arte de viver bem por meio do cuidado de si. O cuidado de si, do grego epimeleia heautou, significa cuidar da alma, do eu, da subjetividade. Consiste em almejar uma filosofia de vida que enalteça as condições e as possibilidades indefinidas de transformação do sujeito, capaz de descobrir um novo eu e impulsioná-lo em busca de si mesmo, porque é intrínseco e coextensivo à vida do ser humano, conhecer e cuidar de si mesmo. Consiste em praticar o exame da consciência das atividades diárias realizadas à noite, antes de adormecer, por meio de uma síntese mental, bem como a meditação e a contemplação ao deitar e levantar e planejar e executar as atividades diárias. Por isso, requer memorizar princípios, fazer leituras, anotações, manter um diálogo profícuo com um amigo confidente, ter um guia espiritual e moral, preferencialmente um sábio ou filósofo, cuidar do corpo sem excessos de atividades e exercícios físicos e realizar uma alimentação saudável. O cuidado ou cultura de si não se caracteriza como uma simples preparação momentânea, efêmera e fugaz da vida, da existência, mas é uma forma de vida, um modo de ser e agir no mundo, com o mundo e para o mundo. Possui uma dimensão terapêutica, curativa e criativa, na qual o homem mergulha na sua subjetividade, na sua alma intelectiva, tornando-se dono de si mesmo, capaz de gerar autonomia, independência, empoderamento, autarquia e autogoverno. Diante disso, estruturamos o livro em dez capítulos. No primeiro, intitulado Traços da vida, do pensamento e da ética do cuidado de si, de Michel Foucault, apresentamos aspectos biográficos de sua vida e a evolução temática de suas obras e o cuidado de si. No segundo, Contexto dos três períodos diferentes do cuidado de si classificados por Foucault, descrevemos os três eixos do seu pensamento e a contextualização histórica e filosófica do cuidado de si. Depois, no terceiro, Período socrático-platônico: séculos V e IV do mundo grego e o diálogo Alcibíades, detalharemos o primeiro período do cuidado de si. No quarto, Período de era de ouro do cuidado de si: helenístico-romano, são analisadas as teses basilares do cuidado como uma prática de vida, por meio da meditação, consciência de si e revisão da vida. No quinto capítulo, Período do ascetismo pagã ao ascetismo cristã do cuidado de si, descrevemos a influência do cristianismo no cuidado pela renúncia de si. No sexto, Fundamentos do cuidado de si, são analisados os eixos norteadores do voltar-se sobre si mesmo e encontrar razões para viver na subjetividade. Depois, no sétimo, O cuidado de si e o cuidado com o outro por meio da parrhesía, relacionaremos o cuidado com a postura da busca pela verdade, seja nos relacionamentos seja na ciência. No oitavo, Filosofia, cuidado de si e medicina, analisamos as formas de cura da filosofia e da medicina e suas imbricações. No nono, A cultura de si, apresentamos o cuidado de si como uma estética da existência. Por último, no décimo, Cosmos, Logos e o cuidado de si, estabelecemos uma relação do cuidado de si com o Cosmos e o logos. No final, fizemos um apreciação do cuidado de si, destacando sua atualidade e algumas limitações baseadas em Pierre Hadot e Charles Taylor.