Choram Mães-Casa seus Filhos-Metade sucede à obra A Revolução dos Homens Sentados e apresenta sete breves histórias que franqueiam, sem concederem à amenidade, a violenta vivência, ainda hoje, de muitas crianças em vários lugares do mundo. São textos-nus, de força crua, inexoráveis, não complacentes com o esquecimento. Rute Simões Ribeiro transporta para a literatura a verdade sem ambiguidade e sem transformação, a não ser a da estética humanista do quase-poema. Desobediente uma vez mais a convencionalismos literários ou sequer deles consciente, a autora impõe aos textos somente o ritmo da rudeza e o fôlego da sensibilidade que dessa brutalidade se extrai, concluindo-se em narrativas breves delicadamente cruas, irredutivelmente humanas. Não obstante exalarem os textos reais existências na mais dura das suas possibilidades, a autora nunca compromete o lugar da literatura, antes a exalta à função de consciência. O livro recorda, em diversas citações, a Convenção sobre os Direitos das Crianças, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Convenção de Genebra relativa ao Estatuto dos Refugiados. Constrange o leitor ao desassossego da humanidade que nele se agite e dificilmente se separará do que for capaz de transpor as suas páginas. Encontra-se nesta série o texto O Naufrágio, que integrou os microcontos nacionais finalistas selecionados pela Escrever Escrever, no âmbito do European Association of Creative Writing Programmes (EACWP) Flash Fiction Contest III Ed. 2020.