O sociólogo Ricardo Antunes, professor da Unicamp e um dos maiores estudiosos do mundo do trabalho entre nós, tem apontado em entrevistas e diversos artigos que o momento atual, em que cresce a mediação do trabalho pelos sofisticados recursos das TIC (tecnologias da informação e comunicação), a que se convencionou tratar como trabalho de plataforma, pode ser caracterizado como protoforma do trabalho, porque os trabalhadores estão sendo submetidos a condições de trabalho e vida que somente encontram paralelo nos primórdios da revolução industrial. O espelhamento entre essas duas expressões – trabalho de plataforma e protoforma do trabalho – vai bem além de um jogo sonoro entre as palavras. Trata-se, na verdade, de denunciar que, sob a capa do trabalho digital, com todos os seus atrativos de conforto, custo, praticidade, velocidade etc., estamos assistindo a um retrocesso profundo, porque as conquistas históricas da classe trabalhadora, na forma de direitos, garantias e instituições, são desprezadas ou destruídas num simples… clique! Neste sentido, o que está se tornando realidade para milhões de trabalhadores nos últimos anos, detrás dos diversos nomes e formas que esse processo assume (uberização, trabalho de plataforma, trabalho digital, tecnologias disruptivas, indústria 4.0, “gig economy” etc.), é a imposição de formas de exploração do trabalho que são, a um só tempo, cada vez mais sofisticadas e mais brutais.