Como boa parte das crianças em idade escolar, não tinha muito apreço pela matemática na juventude e também me perguntava “pra que raios vou usar isso na vida?”. Mais tarde percebi que na verdade o problema estava na forma desinteressante como a matemática é ensinada nas escolas e hoje adoro livros sobre a história ou curiosidades e passatempos matemáticos. E que mesmo tendo me direcionado para as ciências sociais, o uso da matemática e da estatística é quase cotidiano e fundamental para o entendimento da realidade social.Os artigos reunidos aqui foram escritos em diversos períodos e com décadas de distância entre eles. Creio que a ligação comum é o uso da matemática e da estatística – mesmo que ela não apareça frontalmente no texto – e como mesmo um tema pesado como a criminologia tem situações e temas curiosos e que podem se beneficiar muito com o uso desta ferramenta.A leitura não requer conhecimento matemático além do básico e entre outros assuntos, mostramos o paradoxo de Simpson e como as conclusões sobre um fenômeno podem ser opostas, dependendo se analisamos dados globais de um fenômeno ou somente dados de subgrupos que o formam. Como advogados espertos usam a composição do júri e suas predisposições psicológicas (ou seja, lançam mão de um viés de seleção) para propositalmente influenciar as decisões nos tribunais. Também veremos como uma lei matemática chamada Newcomb-Benford pode ser utilizada para detectar casos de fraude e como a probabilidade pode ser utilizada para questionar as “correlações” entre o zodíaco, horóscopos e criminalidade.Você verá também como os algoritmos de busca do google podem ajuda-lo a conhecer tendências sobre roubos de veículos e outras tendências sociais, como conceitos físicos como ponto de inflexão podem ser aplicados aos fenômenos sociais, como a topologia e conceitos como vértices e arestas são utilizadas atualmente para analisar redes criminais. Entrando na geoestatística, ilustramos como as matrizes de proximidade espaciais são usadas para identificar padrões criminais nos mapas ou ainda como a função newtoniana de queda de distância saiu da astronomia e foi incorporada na investigação de crimes seriais. Finalmente, revivemos uma antiga metodologia para calcular um índice de criminalidade, ponderando crimes segundo a gravidade do código penal, para construir um “ibovespa” do crime.Em conjunto, creio que os artigos ilustram razoavelmente como a matemática e estatística, mesmo elementares, podem ser usadas de forma criativa para aprofundar um campo de conhecimento que em geral julgamos pouco permeável às ciências exatas. Não diria que chega a ser um livro divertido, mas espero ao menor estimule a curiosidade de quem se interessa pelos fenômenos criminais.