Este museu foi criado para abrigar a efemeridade das coisas, ainda que o ato de reter o inapreensível desafie a nossa própria existência. O ofício de reunir, conservar e expor foi seguido à risca. Já a maneira de concretizá-lo, não.
Tudo que nele habita, só existe quando desaparece. Ao serem tocadas, as peças do acervo se desmancham. O seu patrimônio mora justamente na errância de capturar o incapturável, de “eternizar” o que se dissipa por essência e sem o menor esforço.
Nunca será tombado porque é feito da queda, da impossível junção dos cacos, da pungência das coisas que não perduram. Presentificar aquilo que existe somente quando não está, passa longe de ser uma tarefa simples. Por isso, esta cartografia de impermanências, finitudes e ausências onde abandonamos as asas para empalhar a densidade e a leveza do próprio voo.
O museu oferece múltiplas narrativas, itinerários e sopros. Não há nenhum problema em se perder pelas remotas galerias de si. Dentro dele, as coisas nunca estarão no mesmo lugar de antes. A sombra das obras expostas vale mais que suas supostas presenças. O que se mostra frágil é apenas um reflexo do que parece.
Este museu surgiu para preservar a natureza efêmera de tudo aquilo que, por não criar essa casca apelidada de memória, deixa de cicatrizar na gente.
Todo cuidado é pouco. Toda beleza é muito.