Escrever poemas não é fácil. Escrevê-los de modo original e potente é mais difícil ainda. Alcançar uma dicção ao mesmo tempo diáfana e mundana é, por sua vez, tarefa para verdadeiros artistas.Em “O Melhor da Rosa”, Rogério Machado realiza essa proeza.Os textos que só agora o autor publica são resultado de anos de reflexão e trabalho poético. Em nossos tempos tão “líquidos”, fugazes e inconstantes, os poemas desta obra se distinguem e diferenciam, ao refletir no espelho daquilo que somos as possibilidades daquilo que não chegamos a expressar, afundados num mar de experiências superficiais, registradas em postagens perdidas nos escaninhos das redes sociais.“O Melhor da Rosa” promove identificação e reflexão, mas é sobretudo uma experiência de prazer, pois nos encaminha para o universo particular do poeta. Esse universo é ao mesmo tempo inespecífico e atual. O poeta, por sua vez, mostra-se e se esconde, num jogo de luz e sombra bastante instigante. É com muita maestria e destemor que ele transita, assim, pelos temas mais variados, com apuro nas imagens (um apuro que muitas vezes beira a erudição), entregando-nos os óculos com que vê a vida. Ou nos fazendo acreditar que está se mostrando por inteiro, ele que se esconde num infinito jogo de gato e rato. É, em todo caso, como se nos dissesse: “veja como eu vejo”.E como vê bonito, o Rogério!O mais interessante é que essa capacidade ímpar de comunicar a essência da própria alma (ou aquilo que decidiu revelar do que realmente ela é) se conjuga a um domínio primoroso da língua. Tudo nos poemas é intencional, desde a formatação dos versos e das estrofes até a escolha das possibilidades em termos de métrica e cadência. É assim que o autor passeia, por exemplo, com desassombro e sem maneirismos, por sonetos e baladas, haicais e quadrinhas.É mesmo um artista de primeira, que lembra, muitas vezes, tanto na estrutura dos poemas quanto na escolha dos temas, expoentes da poesia nacional como Manoel de Barros e Adélia Prado.Agradeço por ter sido uma das primeiras leitoras e, sentada embaixo de um flamboyant na mítica Paquetá, retiro os óculos emprestados e os entrego a você, caro leitor, dizendo, num suspiro de quem viveu uma boa experiência: “aproveite”.
Issana Rocha