Em Entre margens, segundo romance da autora, pontifica uma narradora com invulgar vocação para sofrer e reagir, numa história que combina a persona da tragédia e o romance capa e espada, a simplicidade do cordel e a profundidade da análise psicológica. Como todo bom texto de ficção, este comporta leituras diversas, talvez surpreendentes à autora. Logo, se alguém disser que o romance de Valquíria e Jonathan sabe a Romeu e Julieta com happy end, tudo bem. E se algumas passagens lhe trouxerem, como a mim me trouxeram, um nó à garganta, lembre-se de que se sentir emoções é próprio do ser humano, provocá-las é apanágio da arte.
Na fogueira de Entre margens opõem-se atores de crueldade espantosa, uns, e de nobreza invulgar, outros. A autora fala de gente, e gente oscila entre a extrema bondade e a reles mesquinharia, temas universais, idiossincrasias que formam esse tipo faceiro dito homo sapiens. Adiante-se que nós, os leitores, envolvidos no (pelo) enredo, teremos nosso momento de catarse, o final feliz. Na tessitura de Margarida Fahel, bordadeira de invejável perícia, o bem vence o mal, a virtude se impõe ao pecado: os maus recebem o castigo; os bons, a recompensa.