O tiro voou pra longe de nós jogado sem carinho, soluçando seu sonho de exumação pontífice encantado que chora suas flores cheias de micagens, em velocidade disfarçada de vida. Aqui sobrou o frio na barriga excitado pelo galope constante abocanhando voraz sua parcela pessoal e intransferível de suor – cavoucando garantia alguma – no fundo do buraco em que nos metemos quase que de repente, agora olhando pra cima a resolver nossa surrada condição através do firmamento.Esta é a destilação poética da obra “O Sol tá Maior” mergulhada na quebra do verbo a se aviar tanto entre as profundezas dos sentimentos tão solidamente profusos quanto na imaterialidade dos fatos fugidos da estagnação, rumo ao absurdo concreto de movimento vivo e elevado em absoluto. Dividido em quatro tempos, o Eu parte do chão rasteiro completamente magnetizado e vazio, passeia entre a distância do idealismo e da mera percepção para subir finalmente ao vívido e pleno, vasto e quadridimensional. Este volume é otimista, apresenta um movimento de subida, partindo todo encantado do Astral Térreo – um progresso de poluição, enfraquecimento e desgraça que culminaria na mais infrutuosa forma de existência – para a expurgação, do peso para a plenitude, até chegar lá em cima, na inteireza dos Deuses.O Gosotsa é todo um movimento artístico de ruptura e “O Sol tá Maior” é uma grandiosa obra que envolve música, vídeo, poesia, pintura, literatura e performance, unindo tudo entre si – talvez por vezes de forma arbitrária – que, expressando a abstração contundente do subjetivo, dos sentimentos e das sensações íntimas e coletivas, se impõe freneticamente ante o instinto de objetividade abrupta ansiado pela humanidade moderna.