Cinquenta mil milhões e dólares são, afinal, a mestra chave para desguarnecer “treinados instintos” de auto-protecção de patentes militares e de altos funcionários do centro do poder, pondo em risco até interesses do Estado, esquivando-se da máxima obrigação da verificação primária da origem da proposta. Mas, por quê?
E “o porquê”, a sua necessidade. Em que assenta a actividade jornalística, é exactamente a questão mais presente ao longo desta “Burla à Tailandesa”, narrando a mal sucedida aventura de um burlão, os seus sucessos junto das mais altas esferas militares e políticas angolanas, que, nota-se capítulo após capítulo, inquinam a actividade empresarial no nosso país. É aqui que reside a importância “académica” desta obra, mais do que uma longa reportagem jornalística, mais do que a narração dos meandros de um julgamento em torno de um cheque de cinquenta mil milhões de dólares, é o escancarar de pórticos para a compreensão mais ampla e absolutamente fundamental do percurso do país sob a batuta dos seus dirigentes e subsequentes consequências sociais e económicas. É um retrato daquilo que faz de Angola uma sociedade tão complexa que não consegue tirar partido de todo o seu potencial. A Angola dos nossos dias, que pode, afinal, ser encontrada e compreendida pelos olhos de um jornalista que reflecte sobre o que é capaz a espécie humana, posta à frente de grandes números de um numerário fictício, supostamente atinente às indestrutíveis e cheias de nada “Cavernas de Ali Babá”. Excerto do Prefácio de José Kaliengue.