Desde a Grécia Antiga, Hipócrates já ensinava que existiam duas formas de tratamento: pelo princípio dos contrários e pelo princípio dos semelhantes. O tratamento pelo princípio dos contrários emprega substâncias que agem de forma contrária ou paliativa (“anti-”) aos sintomas da doença (Ex.: anti-inflamatórios, antiácidos, antidepressivos, etc.). Essa é a principal forma de tratamento utilizada pela medicina convencional ou ‘alopatia’. O tratamento pelo princípio dos semelhantes, empregado pela homeopatia, utiliza substâncias que causam sintomas semelhantes (“homeo”) aos sintomas das doenças, com o intuito de estimular uma reação do organismo contra os próprios distúrbios ou doenças (Ex.: café que causa insônia é utilizado homeopaticamente para tratar a insônia, camomila que causa cólica é utilizada homeopaticamente para tratar a cólica, beladona que causa febre é utilizada homeopaticamente para tratar a febre, etc.). Ao instituir a homeopatia em 1796, Samuel Hahnemann fundamenta esse princípio homeopático na observação minuciosa do efeito das drogas de sua época no organismo humano, estipulando um “mecanismo universal de ação das drogas”: “Toda força que atua sobre a vida, todo medicamento afeta, em maior ou menor escala, a força vital, causando certa alteração no estado de saúde do Homem por um período de tempo maior ou menor. A isso se chama ação primária. […] A essa ação, nossa força vital se esforça para opor sua própria energia. Tal ação oposta faz parte de nossa força de conservação, constituindo uma atividade automática da mesma, chamada ação secundária ou reação”. (Organon da arte de curar, §63)Embasada nesse postulado ou “lei natural”, a homeopatia utiliza essa ação secundária do organismo como reação terapêutica, administrando aos indivíduos doentes medicamentos que causam sintomas semelhantes ao conjunto dos seus sintomas (princípio da similitude terapêutica), estimulando o organismo a reagir contra a própria doença. Apesar de pouco divulgada pela farmacologia moderna, pois contraria o tratamento convencional (princípio dos contrários), essa ação secundária ou reação homeostática do organismo é estudada e descrita após o uso de inúmeras classes de drogas paliativas (antipáticas ou enantiopáticas) modernas, segundo o termo “efeito rebote” das drogas ou “reação paradoxal” do organismo. Nas últimas décadas, vimos estudando sistematicamente o efeito rebote dos fármacos modernos, confirmando cientificamente o postulado de Hahnemann (ação primária da droga seguida por ação secundária e oposta do organismo) e o princípio de cura homeopático. Realizando a ponte entre a farmacologia homeopática (princípio da similitude) e a farmacologia moderna (princípio dos contrários), encontramos uma infinidade de relatos, tanto em compêndios farmacológicos como em experimentos e ensaios clínicos publicados em periódicos científicos de impacto, que descrevem uma reação do organismo oposta e secundária a uma ação primária da droga, confirmando a teoria hahnemanniana. Reiterando, essa ação secundária do organismo, no sentido de manter a homeostase orgânica, é denominada de efeito rebote ou reação paradoxal segundo a racionalidade científica moderna, sendo usada pela homeopatia como resposta terapêutica.