Todos nós sabemos o que é estar num estado de negação, pelo menos algumas vezes. Parte de ser humano e viver em sociedade com outros humanos é encontrar maneiras inteligentes de lidarmos de uma forma racionalmente cética com as informações que são veiculadas pelas redes sociais e pelos meios de comunicação tradicionais. Questionar é inicialmente negar esses conteúdos para checar sua veracidade, atitude que se faz necessária tendo vista a propagação das notícias falsas mais hoje do que nunca. Por exemplo, durante séculos a visão geral foi de que a Ciência não é nem boa nem má – que apenas fornece informações e que novas informações são sempre benéficas. Agora, as verdades provisórias da Ciência são desacreditadas e postas em dúvida por líderes religiosos e políticos que apresentam suas próprias proposições do que seja verdadeiro.
Há negacionistas de todo tipo e que têm propósitos distintos, mas em geral eles se opõem publicamente a determinadas verdades ou fatos e espalham desinformação visando certos objetivos. Aliás, os negacionistas aceitam evidências apenas se estas confirmarem suas crenças. No fundo, o negacionismo, a negação irracional, o revisionismo e o obscurantismo são simplesmente um subconjunto das muitas maneiras que os humanos desenvolveram para usar a linguagem para enganar os outros e a si próprios. A negação pode ser tão simples quanto recusarmos a aceitar que outra pessoa está falando a verdade e tão insondável quanto às várias maneiras pelas quais evitamos reconhecer nossas fraquezas e desejos secretos, mas negar também pode criar um ambiente de ódio e suspeição entre as pessoas.
A proposta da obra é oferecer referências não só válidas, mas também reflexivas a respeito do negacionismo, que nega a eficácia das vacinas, que não admite a existência das mudanças climáticas, que rejeita as verdades consagradas pela Ciência e a orientação dadas por especialistas. Vamos questionar se as causas e motivações negacionistas provocam ou não a separação entre as pessoas, semeando a intolerância, a desunião e o conflito na sociedade.
Através de frases curtas, citações e perguntas que promovem a reflexão, o leitor é levado a ponderar sobre o que é bom para todos, empregando aquilo que lhe é inerente: a razão. Em várias páginas podem ser encontrados três símbolos de interrogação (???), indicando que se está diante de um questionamento apesar de ser uma afirmação, pois o que se quer é a ponderação.
O livro adota um enfoque cético mas que é racional e positivo, que além de procurar manter a mente aberta, parte da premissa de que fazer o bem aos seres vivos, não lhes fazer o mal e não lhes prejudicar, depende também de não promovermos a dúvida e a incredulidade irracionais com propósitos gananciosos. Afinal, respeitar a dignidade do outro também é prezar a sua inteligência.
São propostas inúmeras questões, por exemplo:– O negacionismo é meramente um posicionamento ideológico? O negacionismo defende apenas um outro conjunto de crenças? Os negacionistas são somente vozes dissidentes que questionam o que dizem as autoridades finais sobre um dado tópico?– O negacionismo não estimula a produção de teorias como forma de desacreditar ou por em dúvida o que é reconhecido como verdadeiro? Nem estimula a criação de expectativas impossíveis sobre o que uma determinada teoria ou pesquisa poderia oferecer?– Os negacionistas afirmam que existem alternativas para qualquer crença, seja qual ela for. E uma vez que elas são frequentemente chamadas de “fato”, eles também afirmam que fatos alternativos realmente existem.
São reflexões como essas que vamos encontrar a cada página, que pretendem questionar as nossas convicções. O que se quer, é que pensemos por nós mesmos e não como o autor pensa. Trata-se de uma excelente oportunidade para exercitarmos a dúvida saudável, que leva ao esclarecimento daquilo que é potencial ou inegavelmente nocivo.