As crianças do século XX em diante compreendem o termo “reino” como uma realidade meio que abstrata, uma entidade mágica associada aos contos de fadas, às histórias infantis e claro, a temática medieval. Logo vem à mente os castelos europeus, irlandeses, ingleses, alemães que ilustram as animações da Disney, as princesas são ‘herdeiras de moda’ da nobreza europeia, recriando a moda de 1700 a 1900, o príncipe não possui nenhum papel proeminente maior que salvar ou casar com a “plebeia” que em algum momento vai receber o direito de ser denominada de princesa, tornando-se ‘herdeira de fato’. Os reis e rainhas são acessórios. As festividades elencadas são intermináveis bailes misturados a temática americana, evocando os bailes adolescentes de formatura, os soldados se vestem ora como cavaleiros medievais, ora com roupas que são alusões a guardas de principados, condados europeus, anteriores a queda ou transformação das monarquias em estados presidencialistas, parlamentaristas ou regimes mistos onde a monarquia é somente cerimonial, como do Reino Unido ou do Japão. A palavra “reino” perde bastante de seu significado se contrastada com sua concepção folclórica, ou cristalizada pelos contos de fadas. Porém essa realidade administrativa, politica, mítica diria eu, do “reino” traduz mais coisa que pode conter nossa lúdica imaginação. Para início desse estudo, lembramos que todos os domínios políticos da antiguidade foram em algum instante denominados de “reinos”. E que a mudança em estados soberanos é uma divisão política do mundo recente, que os sistemas atuais de governo, da modernidade, presidencialismo, semi-presidencialismo, parlamentarismo, monarquias parlamentares, unipartidarismo e etc, todas essas formas de governo atual, nascem a partir da estrutura do “reino”. E não importa que nome administrativo os sistemas de governo evoquem para si, eles são indubitavelmente, reinos, ainda que seus “regentes” já não sejam denominados de “reis”. Todos os governos do mundo herdarão, se não as práticas políticas, ao espírito dos reinos da antiguidade. Quanto mais estudarmos a essência dos reinos da antiguidade, mais semelhanças com eles encontraremos na moderna administração dos estados modernos.
O termo reino designa um domínio, um governo em que um soberano atua como rei, que comanda um grupo de súditos, dentro de um território, limitado a um determinado contingente de pessoas. Ao domínio ou fusão de muitos reinos, dominados, subjugados ou reunidos por alianças, comandados um único soberano nós denominamos de “império”. Essa é somente uma pobre explicação do que vem a ser um reino em termos políticos. A dimensão antropológica, social, cultural, espiritual, filosófica, e lúdica do termo “reino” é extraordinária. Para compreendermos de modo profundo o significado da expressão “reino de Deus” necessitamos mergulhar em todas as matizes humanas do termo, abordando do mágico ao mítico, do mórbido ao lúdico, do cerimonial ao psicológico da acepção, do conceito de “reino”. É a essa aventura que se propõe este estudo.