Os manuais escolares em filosofia referem-se frequentemente ao problema de outras mentes. Num olhar superficial, pode parecer que existe um acordo sobre qual é o problema e como podemos resolvê-lo. Mas, numa inspeção mais aprofundada, constata-se que há pouco acordo sobre o problema ou sobre a solução para o mesmo. Com efeito, não há qualquer consenso sobre se existe aqui algum problema. O que parece claro é que houve um período de filosofia, aproximadamente por volta de meados do século XX, quando havia muita discussão sobre outras mentes. O problema aqui tem sido mais comumente pensado para surgir dentro da epistemologia: como eu sei (ou como posso justificar a crença) que outros seres existem que têm pensamentos, sentimentos e outros atributos mentais? Uma linha de resposta padrão a esta pergunta foi o de apelar à analogia, outra para melhor explicação. Uma abordagem menos normal tem sido o de apelar a critérios. Ligados a esta abordagem, e alimentados pelo trabalho posterior de Ludwig Wittgenstein, alguns filósofos argumentam que o verdadeiro problema de outras mentes é conceptual: por que eu penso tanto que há outros seres pensantes? Tanto os problemas conceptuais como os problemas epistemológicos podem estar ligados a um problema metafísico mais geral de compreender o que são mentes e estados mentais.Na filosofia analítica, no final do século XX, o interesse por estes problemas diminuiu, mas tem havido um ressurgimento do interesse nos últimos anos. Isto deve-se, em parte, ao facto de os filósofos terem começado a explorar a sério a possibilidade de termos o nosso conhecimento de outras mentes da mesma forma que nós olhamos pelo nosso conhecimento de objetos no mundo – pela percepção. Esta possibilidade também é explorada em fenomenologia e nos últimos tempos filósofos escolares nas tradições analíticas e fenomenológicas têm contribuído para a discussão deste tema. Alguns filósofos encontraram inspiração ainda mais longe, nos textos dos filósofos budistas indianos. O interesse filosófico noutras mentes também foi estimulado pelo trabalho em psicologia e neurociência. Uma viragem mais naturalista na filosofia levou a questões relacionadas com a nossa compreensão dos outros. Poder-se-ia ver este trabalho como deixando para trás as preocupações epistemológicas tradicionais com o ceticismo radical, abordando, em vez disso, a questão de como vamos atribuir estados mentais aos outros — uma questão que pode ser feita não só aos seres humanos adultos, mas também aos bebês (quando e como chegam a atribuir estados mentais aos outros), e também a outros animais, não humanos. Além disso, pode-se considerar a possibilidade de um déficit na capacidade de atribuir mentes aos outros e como isso se pode manifestar, por exemplo, no autismo.