É muito famosa a afirmação crítica de que “Jesus quis o reino de Deus, mas o que veio no lugar dele foi a Igreja”. Rubem Alves, no maravilhoso texto chamado texto intitulado Sobre deuses e caquis, define a Igreja como “nome de um desejo; horizonte que convida e que se afasta…”. Para além de seus muitos críticos, em sua autopercepção a Igreja se vê sempre muito bem. Os católicos creem que sua igreja é mater et magistra – mãe e mestra. Alguns protestantes falam de si como “igreja reformada”, por exemplo. E a verdade é que, em meio a tantas críticas e autopercepções elogiosas, em meio a ódios declarados e a paixões arrebatadoras, as igrejas sobrevivem como as instituições mais longevas de nossas sociedades. Na atualidade, todas elas parecem florescer e ganhar novo vigor. Os templos lotados estão em todas as partes da cidade. Como isso é possível depois de tanto tempo, e em uma cultura como a nossa?
Esse livro quer entrar nesse debate.
Sou uma pessoa de fé e de vivência em comunidades de fé. Parte de que sou pode ser explicado pela convivência nesses espaços. Sou um cristão Batista desde 1997, quando me converti na Primeira Igreja Batista da minha cidade, aos 20 anos de idade. Portanto, muito além das leituras e da investigação acadêmica, o que segue é fruto de vivencias concretas. Depois de tantos anos vivendo em comunidades, nossa conclusão é de que as igrejas são instituições tão humanas quanto quaisquer outras. Essa conclusão, no entanto, tem levado enormes contingentes de pessoas a abandonaram a vida em comunidades de fé. No Brasil, apesar no enorme crescimento que os grupos evangélicos têm tido nos últimos anos, o grupo das pessoas crentes que não frequenta mais comunidades de fé cresce do mesmo modo. São os desigrejados, como têm sido apelidados.
Esse livro busca responder à ambivalência das igrejas e ao desafio de se viver em comunidades de fé de outra forma. Apesar de ele não ser um uma defesa irrestrita dessa instituição chamada Igreja, ele é uma aposta de que tais comunidades podem ser relevantes, criativas, fiéis ao legado de Jesus de Nazaré, e desse modo serem forças positivas na construção de outro mundo possível. A pergunta que dá título a esse trabalho – Onde está a igreja outra possível? – é inspirada na divisa do Fórum Social Mundial. Com isso, estamos dizendo que a crítica que fazemos à Igreja, na verdade, é parte da crítica que fazemos ao modo como nossa sociedade se organiza. Sonhamos com um mundo mais fraterno, mais justo econômica e socialmente, onde a “justiça corre como um rio” (Amós 5,24). O que as igrejas têm a ver com isso? É que o gostaríamos que você descobrisse com as páginas que se seguem.
(*Texto da Introdução)