REBELDES – Contos fantásticosQuem escreve contos que, na grande maioria dos casos, mesclam elementos eróticos, de humor e fantásticos ou surreais não tem muita dificuldade para selecioná-los com base em uma dessas dimensões. Em Rebeldes, todos os textos obedecem a esse critério: foram escolhidos por serem fantásticos. Há contos eróticos, como o que dá título ao livro – no qual certas partes do corpo de uma linda mulher ganham autonomia, colocando-a em situações por vezes embaraçosas –, e Meu Brasil pornofônico; outros envolvem entidades da umbanda e do candomblé (Cambuta, O exu mirim), divindades (Clítoris, o poeta, Mãe exigente, Artemis e Órion), aparições e fantasmas (Pigmaleoa, Miguel e Magrão, Amor e Desamor, Madalena) e outros totalmente surreais, em que palavras se manifestam ou se escondem (Lapsos, Plágios). Em praticamente todos eles, o fantástico dá uma das mãos ao erotismo e a outra ao humor. Mas cinco textos não devem provocar um único sorriso, e sim arrepios (tomara que provoquem). A sede, A visita, Boitatá, Monstros e Os deuses do aço são contos de terror e de morte. Gosto deles mas não sei por que os escrevi, simplesmente surgiram.A contrapartida a essas criações sombrias são minhas oito fábulas, seis delas sobre gatos (os meus e os de duas amigas). Nesses textos não há um pingo de terror, e o erotismo limita-se a pitadas em dois deles (A greve das sereias, A protagonista e a musa). Já o surreal e o bom humor ganham de goleada em todos os continhos. Jorge Luis Borges, no livro Siete Noches (Buenos Aires: Sudamericana, 2018. p. 78) observou: “Suspeito que o encanto das fábulas não esteja na moral. O que encantou a Esopo e aos fabulistas hindus foi imaginar animais que fossem como homenzinhos, com suas comédias e suas tragédias”.Espero que as comédias e tragédias envolvendo gatos, sereias, marinheiros aqueus, musas e protagonistas de histórias de amor encantem e divirtam a todos vocês, como me encantaram e divertiram ao escrevê-las. Cadu Matos