Além de um importante e seguro guia para a compreensão da tradição retórica e suas metamorfoses contemporâneas, este livro é também resultado de um bem sucedido envolvimento com problemas e temas históricos. Assim, não se trata apenas de um compêndio de autores e temas, por si só bastante relevante; mas também resultado de uma reflexão original de seu autor acerca do valor e lugar da retórica na produção e recepção do conhecimento historiográfico. A afirmação do autor de que a retoricidade de toda linguagem aponta para o fato de que não devemos esperar que certos discursos apresentem a “verdade nua”, mas sempre estão acompanhados por sua situação, deveria nos alertar para os riscos renovados de tratar as palavras como idênticas à uma realidade substantiva. Não podemos, por um lado, tomar as palavras como “mera retórica”; mas também não podemos investir nelas o valor de substâncias imóveis portadoras de identidades metafísicas. Assim, repetimos as palavras do autor que nos deveria servir de estímulo para uma relação menos naturalizante quando nos relacionamos com a força das palavras em uma época em que as redes sociais estabeleceram uma enorme confusão acerca dos horizontes performativos do que é dito e escrito: “A palavra é mais do que um veículo para enunciar a verdade ou traduzir a realidade. Ela também diz respeito ao consenso, às práticas sociais, ao prazer de ouvir e narrar”. As palavras não são “mera retórica”, mas isso não pode nos afastar da convicção de que elas devem servir para nos libertar, não nos aprisionar.
Valdei AraujoProf. Departamento de História UFOP