“O nome da peça de Herácliton Caleb é taxativo. Diante de uma arma, esse instrumento, “[…] feito para perfurar a pele. Para rasgar o órgão”, não há escapatória, não há singularidade, não há espaço para a ação livre. Tornamo-nos também um objeto quando submetidos a sua esmagadora força. A consequência imediata é que se a nossa igualdade está no fato de que sempre reagiremos de forma única diante de uma mesma situação, então não há encontro, não há diálogo, não há pluralidade, não há mundo.
Estaríamos sendo simplistas se disséssemos que o tema da peça é exclusivamente a violência urbana. Não é. Há discussões sobre as possibilidades de ação e reação diante de eventos que nos atravessam sem aviso; há questões a respeito dos modos de constituição de empatia em um mundo esfacelado; percursos sobre as possibilidades de se narrar algo depois de um evento traumático; questões sobre a própria dignidade humana e suas implicações; questões que emergem quando tentamos atribuir significado a eventos que irrompem de modo tão violento e repentino.”
Denizart Fazio