Na verdade, sempre achei a narrativa de Lucas mais interessante, mais humana, mais rica em detalhes. E talvez por isso a tenha mesmo lido mais vezes. Ou talvez nem seja por isso. Sei lá. De qualquer forma, o que importa para o sentido prático de nossos exercícios é que não existe nada pior do que realizar uma tarefa cotidiana que não traga prazer e alegria. Aliás, alegria provoca, segundo Spinoza, potência de agir, uma capacidade extra para realizar melhor qualquer tarefa que se imagine empreender. E não só isso. O sábio Salomão afirma que um coração alegre conduz à celebração, além de ser capazde desenhar novos contornos e formas ao rosto de quem sorri. A alegria sustenta o prazer do empreendimento, assim como tal prazer firma o empenho na empreitada. Diferente daqueles que exercitam seus corpos com frequência nas academias, e que ao fim de suas séries se sentem prazerosamente recompensados pela endorfina e pela dopamina liberadas durante os exercícios, elucubrar sobre o texto do Evangelho de Lucas produz em mim um prazer imenso, não apenas ao fim do exercício que fazemos para compreendê-lo, mas ao longo de todo o processo de perceber aquilo que o autor pretendeu passar, ainda que direcionado pelo Espírito que lhe soprava forma e conteúdo, ao longo de toda sua expressiva narrativa.