Esta tese tem como objeto de estudo o corpo como uma realidade discursiva. Trata-se de uma pesquisa que busca conhecer os discursos que definem as condições de possibilidade de emergência da virtualização do corpo como uma nova episteme. Partiu-se da hipótese de que o corpo anatômico, tal como foi constituído pelos discursos e práticas médicas por Foucault, sofre mudanças com os processos de virtualização. A virtualização desterritorializa as referências espaço-temporais, conforme Pierre Levy, colocando em questão a lógica anatomopatólica. Buscou-se compreender, em que medida o corpo virtualizado se diferencia da experiência de corporeidade anatomopatológica. Investiga-se a transparência do corpo como marca da virtualização. A transparência é compreendida aqui como uma intensificação da visibilidade, propiciada pelos aparelhos tecnológicos aplicados à medicina (Levy, 1996/2009; Chazan, 2003; Ortega, 2006; Tucherman, & Saint-Clair, 2008). Nosso estudo seguiu pela via das tecnologias imagéticas na clínica médica para pensar questões do contemporâneo, levando-nos a situar os fundamentos do corpo-transparente e a pensar na transparência como extensiva a outros domínios da vida em sociedade. Realizamos assim, uma genealogia em que o corpo foi analisado nos discursos médicos, nas produções fílmicas e nas redes sociais, constituindo-se como práticas, saberes e normas, ou seja, testemunhos dessa nova discursividade que o caracterizam na contemporaneidade. Conclui-se que, na contemporaneidade, é a imagem que fundamenta o corpo, considerando que ainda vigora o sentido da visão, mas que se torna predominantemente um olhar que ver o corpo através de, por meio de, portanto, privilegiado no que a imagem produz. Sendo, por isso, uma nova forma de organizar o visível-invisível que age por meio dos processos de virtualização, em que o anteparo do aparelho, da tela se estabelece como forma de estarmos, existirmos, pensarmos e nos comunicarmos.