Das mesas do CH (Centro de Humanidades) da UECE aos textos de um blog e às páginas de um livro. Cruzando, atravessando ou entrelaçando as ideias, os afetos, as descobertas, as dúvidas, o cansaço da vida cotidiana, a distância, o tempo, o oceano, etc. Os três autores desse livro, três mônadas de janelas escancaradas, seguem fazendo filosofia. Quando eu os conheci, eles eram apenas três jovens estudantes completamente apaixonados pelas descobertas diárias de cada aula, de cada nova leitura. Todos os dias era possível encontrar Jayme, Júlio e Paulo Victor sentados em uma daquelas mesinhas quadradas debatendo algum tema filosófico sob as sombras das mangueiras. Confesso que ouvi-los falar sobre filosofia era muitas vezes mais empolgante e mais envolvente do que estar na sala de aula. Incontáveis e transformadoras foram as tardes que passei aprendendo com eles sobre Nietzsche, Hobbes, Espinosa, Walter Benjamim, etc. Quem poderia imaginar que essa mesa continuaria existindo para além dos espaços físicos do CH? O que eu vejo ao ler esse livro é o mesmo diálogo profícuo, profundo e prazeroso acontecendo em meio há tantas trocas que, embora seja fácil identificar o estilo de escrita de cada um dos autores, é quase impossível não perceber o quanto esses textos se afetam, se misturam, se completam. Cada autor da sua maneira, cada texto com seu estilo, pensando juntos sobre o mesmo tema, ou separados sobre temas diferentes, se encaixam, se conectam e conversam. É por isso que trata-se de um livro de filosofia feito pelo exercício do diálogo e não só do pensamento.Cada texto é uma expressão artística das influências filosóficas que os habitam. São textos nos quais o pensamento corre livre e flutua, ou melhor, onde a filosofia aparece dançando livremente entre as palavras. Uma colcha de retalhos que se costura, compõe-se e se recria por ideias que, por vezes metafóricas e irônicas, nos convidam a repensar sobre questões cotidianas. Ao leitor desse livro, recomendo que permita-se atravessar por essas ideias, permita-se ser poeta, pois “o estado poético é uma fagulha da vida que realiza em nós”. Ravena Olinda TeixeiraSão Paulo, 8 de outubro de 2020