Este livro demostra as mudanças e as permanências relacionadas às vulnerabilidades femininas à morte violenta, com o fim de ofertar novas contribuições aos estudos sobre a violência letal contra as mulheres. Nessa linha, expõe as manifestações que divergem dos padrões de feminicídio previstos no direito penal brasileiro, assim como apresenta de que maneira se desenrola a violência de gênero letal hoje, situando o tema dentro das atuais dinâmicas do patriarcado, do capitalismo e do racismo. A autora pergunta se os tradicionais feminicídios, ou seja, aqueles decorrentes sobretudo de violência doméstica e/ou sexual, são centrais para explicar os números de mortes de mulheres no período recente. Ao longo do trabalho, ela argumenta que a crescente inserção das mulheres nos espaços públicos e sua maior suscetibilidade ao mercado e ao Estado (patriarcais, neoliberais e racistas), com a guerra às drogas como estratégia de neutralização social nesse contexto, produzem novas vulnerabilidades à violência, tornando as agressões às mulheres mais diversas do que os casos de violência doméstica e/ou sexual, até então o foco dos estudos sobre a mortalidade feminina violenta. Para verificar essa hipótese, foi realizada uma pesquisa quanti-qualitativa a partir de inquéritos policiais de homicídios de mulheres ocorridos entre 2013 e 2017, nas cidades de João Pessoa e Porto Alegre. A pesquisa mostra mudanças nos padrões desses delitos, com a maioria dos assassinatos motivados pelos conflitos relacionados ao narcotráfico, sem uso de violência sexual. Os resultados mostram que não é mais óbvio empreender associações diretas, sem uma análise apurada, entre mortes violentas de mulheres e feminicídios. Contudo, estes, ainda que possam ser, em algumas cidades, menos prevalentes que antes, permanecem vitimando de maneira relevante as mulheres, adquirindo manifestações que representam uma reação ao empoderamento feminino e ao poder masculino perdido, mais que propriamente o exercício de violências sobre uma mulher frágil, dependente e restrita ao lar.