Em “Políticas indígenas no alto rio Negro” a autora narra as origens e o fortalecimento do movimento indígena no alto rio Negro e o interesse e a atuação dos indígenas desta região pela política partidária. O livro é fruto de uma pesquisa etnográfica realizada no município de São Gabriel da Cachoeira, na Amazônia brasileira, com indígenas dos diferentes povos que habitam a região. A obra dialoga com referências bibliográficas da antropologia mas, o ponto forte é a apresentação etnográfica dos modos indígenas de se fazer política em diferentes espaços tais como movimentos sociais, prefeitura, instituições públicas, terceiro setor. Assim, ela mostra como, nos últimos anos, os indígenas transformaram estes lugares transformando também a si mesmos e suas relações com os não indígenas. O movimento organizado existe naquela região pelo menos desde a década de 1970. Já os debates acerca da política partidária, bem como as tentativas de alianças indígenas visando ocupar cargos eletivos no município, se intensificaram ao longo dos anos 1990. Em ambos os processos tomaram à frente das falas e trabalhos alguns líderes indígenas, que muitas vezes expressavam o movimento como espécie de “laboratório” para a política partidária. Ou seja, há diversos pontos de intersecção entre essas duas esferas que fazem com que não possam ser pensadas de modo apartado. Ao contrário, as descrições e análises de algumas narrativas e acontecimentos políticos do alto rio Negro que são apresentadas neste trabalho mostram como nesses espaços os índios dialogam, debatem, lutam e disputam entre si, mas também com dois outros agentes fundamentais: brancos e Estado. Nesse sentido, o livro reflete também sobre os processos políticos de constituição de uma socialidade indígena em relação ao Estado, que eles passam a “ocupar” quando, em 2008, são eleitos dois índios para os cargos de prefeito e vice-prefeito do município de São Gabriel da Cachoeira. Os enredos, narrativas, ações e avaliações desses processos fundamentam uma argumentação na qual o idioma mais forte é o da transformação, da instabilidade e da reversibilidade.