Nathan Kabuenge nos convida a entrar na política pela porta da frente. A entrada do pensamento busca, pela investigação e da argumentação política, clarear as divergências e oferecer uma forma de ver, não apenas a política, como propõe a partir do bolsonarismo, mas antes de tudo um parar para pensar o país a partir dos acontecimentos que nos levaram a um governo que invade a praça, as instituições e a vida das pessoas com um modelo de descalabro até então inexistente no Brasil, posto que a porta de entrada, também para este governo, foi a porta da frente da democracia. E como indicação, a perspectiva de continuidade nas próximas eleições que já mobiliza em grande parte as ações de governo e do “bolsonarismo”. Um governo midiático que tem nas novas mídias o seu principal lugar de criação das divergências, como ação política, negando as evidências dos fatos, desclassificando a ciência e a educação, negando inclusive, a pandemia que devasta o mundo, influenciando na natureza da comunicação pelo uso de uma política da informação familiar e grupal, desacatando de forma permanente a ordem pública e o caráter das instituições, inclusive a judicial. Nathan nos mostra este percurso político e social que compõe este cenário surreal na política brasileira e global, passando pela negação da classe política, pensando o antipetismo, o uso da mídias socais e digitais no marketing eleitoral e político, o surgimento dos evangélicos, milicianos e apoiadores de Jair Bolsonaro como marca deste tempo. Será que existe “bolsonarismo” ou inventamos este perfil para justificar o avanço de ideias de extrema direita na política global? Será que existe “bolsonarismo” ou o eleitor brasileiro se absteve em grande escala por desacreditar na política real, que se mostra como um show em tempo real de ordens familiares, corrupção e troca de favores entre os poderes? Nathan Kabuenge busca nestas questões a negação da invenção do “bolsonarismo” como uma prática política e nos mostra um acidente de percurso que desqualifica a política real no Brasil. A análise se expande com o conceito de “minoria gritante”, “coronelismo religioso” e a análise do voto feminino pela marginalização das mulheres na política brasileira que, como maioria, fica a reboque dos dogmas patriarcais que esvaziam o sentido de empoderamento feminino proclamado pela política eleitoral. É, portanto, um livro para ler agora, para pensarmos o futuro próximo, que já está aqui, com eleições municipais e próxima eleição geral em 2022. Precisamos pensar que em tempos de crise e de pandemia, o desmonte pelo governo e consequente desgastes das instituições se tornam mais evidentes e parecem influenciar de forma direta as perspectivas de reação da sociedade civil organizada para retomar o pulso da democracia e os seus efeitos nas próximas eleições. Nathan Kabuenge deixa nas entrelinhas do seu pensamento, mas usando dados eleitorais e relações políticas e os enfrentamentos sociais, os cidadãos e principalmente as cidadãs, em ação, eleitores que são, percorrendo estes meandros da vida, mesmo na agudeza desse tempo de crise. E temos certeza de que aí a democracia resiste e permite a possibilidade de acreditarmos em um futuro político-social melhor para o país. Diante de tudo isto, Nathan Kabuenge faz a pergunta que não quer calar: A reeleição de Bolsonaro é possível em 2022? A democracia, as eleitoras, os eleitores, cidadãs e cidadãos é que irão nos responder.
Otacílio Amaral Filho.