O ser humano não nasce bom, nasce amoral. O infundado prisma a respeito de uma bondade natural gera frustrações; ideologias utópicas cativam por sentimentalismo e posteriormente causam ódio e desejo de dominação ditatorial; os prazeres selvagens soam mais atrativos quando se está moldado a uma busca por satisfações imediatas – toda forma de prazer é válida, desde que sem transgredir ninguém.
Autocontrole, sem leis, não nos levaria a nenhuma evolução e leis não existiriam se não houvesse no homem uma superior predisposição a controlar os instintos e moldar comportamentos. Evoluímo-nos abdicando da aprisionadora singularidade e integrando um pluralismo que dá significado às coisas. O convívio social exige a compreensão do direito dos outros e dos deveres para com eles.
A criatura humana não é uma ilha isolada em si mesma. Os hábitos geram a cultura e a cultura molda a moralidade. A punição para com transgressões pode criar um senso de justiça social. Sem o senso de equidade seríamos estimulados a continuar vivendo de modo primitivo. O que se é considerado transgressão também é decorrente da escolha humana. Os crimes hediondos ocorrem devido a uma construção moral egocêntrica e primitiva, baseada em comportamentos respondentes. Pode-se justificá-los; pode-se torná-los inadmissíveis.
A espécie tem o poder de decidir o que lhe é pertinente ou não. Holocaustos humanos não significam nada para os genocidas, o que lhes importa é a conquista do poder. A violência, tanto física quanto psicológica, faz parte da cartilha de toda causa apartada da razão.
A distorção da realidade impede que sejamos verdadeiramente bons uns com os outros. Quando nós, humanos, usamos a máscara de “bondade natural” a bestialidade intrínseca permanece cochilando e desperta esporadicamente causando diversos males e frustrações inesperadas.
Quando reconhecemos nossa selvageria e, cientes, substituímo-la de nosso repertório comportamental por causa de uma almejada humanidade constituída pela razão, passamos a ter uma real empatia e aproximamo-nos do repertório superior. Devemos ser livres, mas dentro do respeito à liberdade alheia. A obra trata a respeito da construção da moralidade, da importância de justiça.