Apesar de compreender o papel potencializador da educação para o processo civilizatório, tanto a fortuna crítica que trata dessa temática como a experiência coletiva motivada pelas discussões com os alunos e alunas da graduação e da pós-graduação, conduzem a uma instigante tese matriz que orienta as reflexões e análises presentes no livro: um sujeito mais bem educado (em termos de educação formal/cultura letrada) não é garantia para a constituição de uma humanidade menos bárbara. A categoria trabalho é mediadora da reflexão que problematiza temáticas próximas. A análise segue esse fluxo de problematização sobre o vínculo entre o ser social, a educação e a cultura/civilização na barbárie. Isso porque, ainda que a cultura não seja uma entidade sacrossanta, ainda causa estranhamento o fato de que, no tempo presente (Zeitgeist – uma espécie de espírito do tempo), a violência e o comportamento violento têm sido lugar comum em quase todos os âmbitos da sociedade. A análise e a reflexão conduziram a escrita para um amplo e variado universo de questões que orbitam a temática. Na primeira parte, A dialética do trabalho e o conceito de cultura, aborda-se o conceito de cultura e a relação entre trabalho e barbárie, a partir da teoria crítica da sociedade; problematiza-se a ideia de que animais não humanos produzem cultura, bem como a tese de que haveria uma essência humana a priori, a partir da qual determinaria e seria responsável pelas escolhas existenciais do ser social. Ao longo do livro enfatizo que no âmbito do processo civilizatório há uma dinâmica, íntima e dialética relação entre a produção da cultura e a barbárie que a acompanha. Defendo a tese segundo a qual ambas são produções humanas, constitutivas da mesma e conflituosa realidade. Compreender esse dinâmico e contraditório processo é um primeiro movimento para se realizar uma possível reconciliação não forçada (ou negação determinada) do indivíduo com sua “natureza animal” e, dessa forma, ser possível minimizar a danificação do humano gestada pela própria civilização. Ao contrário da negação abstrata (ahistórica e não dialética), a negação determinada é o principal dispositivo que compõe a elaboração do passado (filogenético – da espécie sapiens) e histórico-social (do gênero Homo): tese defendida na segunda parte do livro, intitulada Cultura e educação: reconciliação autodeterminada com a natureza.