Alguns dizem que a poesia salva, e os poetas da cidade estão apenas em busca de redenção, eu não sei se isso é verdade. Pra falar a verdade, eu nunca vi a poesia como uma opção e nunca me vi como um poeta. Nós escrevemos poesia como bebemos, comemos e respiramos, faz parte de nós, somos humanos, demasiadamente humanos. Nós somos poeira de estrela, mas também somos poesia, ela reside no processo, na vida, na morte, e em tudo no meio disso. Você pode me perguntar o motivo de eu ter escrito um livro, e eu não saberia responder isso da forma correta, escrevo porque talvez não seja uma opção, escrevo porque talvez seja a única opção para fazer transbordar as palavras não-ditas. Esse livro é um aglomerado da minha humanidade e da humanidade daqueles que inventei, um conjunto de textos e poesias que eu escrevi ao longo dos anos, é um conjunto de tudo o que eu não quis falar, ou não tive coragem. Eu poderia falar mais sobre o livro ou sobre minhas motivações, mas acho melhor mostrar, por isso, segue um pequeno trecho do livro:
“Você diz que nosso Gênesis foi como o da bíblia, eu acho que o nosso Gênesis foi como o Apocalipse, como anjos fadados a queda pela nossa soberba e vaidade, e estou caindo faz tanto tempo que não sei o motivo, mas isso não faz a menor diferença para a gravidade. Somos poeira de estrela e achamos que somos grandes como elas, somos poeira de estrela e não conseguimos irradiar mais nada, somos poeira de estrela e nada nunca pareceu tão escuro enquanto o sol entra pela fresta da janela formando um arco-íris em cima da mesa do computador, como se as únicas coisas iluminadas no momento fossem o que tenho a dizer […]”